28.11.07

Não me olhes assim

(Ambiente romântico. Música de violinos)

Ele – Eu… perco-me no teu olhar.

Ela – Oh, que querido. (cora ligeiramente) Nunca me tinham dito nada tão lisonjeiro.

Ele – Não é isso. És estrábica. Faz-me confusão falar com pessoal estrábico. Nunca sei bem para onde olhar. Perco-me, estás a ver?

27.11.07

O porco e as ovelhas

O que vos mostro hoje tem tanto de inexplicável como de assustador. Algures na fachada de um edifício existe esta imagem.



“A opressão do mundo natural, ditada por caprichos económicos de sociedades urbanas emergentes”. Temática interessante, plena de sentido e actualidade; podia ser o título da obra.

Mas não. Temos apenas um porco e duas ovelhas (ou cabras, dependendo do que o “artista” pretendia). Inexplicável, portanto.



Por que é que veio, então, parar ao blog?

Primeiro, porque não é minimamente importante, e quando assim é…

E depois, porque tem uma cara. Não falo do óbvio, das faces dos animais. Mas reparem no focinho do porco.

O focinho do porco é, em si, uma cara. Um smile típico.



Agora, o que não compreendo é por que se tentou encobrir esta situação, desenhando toda aquela cena animal em redor. Quem o terá feito? Por que terá feito?

E por que não está o smile a rir? Parece-me inclusivamente apreensivo. Por que razão está o smile do porco apreensivo? Será por estar a servir de focinho? Ou saberá de alguma coisa que não nos pode dizer? Alguma coisa importante? Alguma coisa preocupante? Será que não nos quer alarmar?

O que terá um focinho de porco para nos dizer que nos possa deixar alarmados (para além do simples facto de estarmos a falar com o focinho de um porco, claro)?


Tantas perguntas na minha cabeça e nenhuma resposta para me acalmar o espírito. Decidi, por isso, armar-me em Dan Brown da linha de Sintra e tentar desvendar toda esta conspiração. Peguei em material que normalmente se costuma utilizar para desvendar conspirações (a minha máquina fotográfica) e voltei ao local.


O resultado foi este.


Assustador? Um pouco. Ao procurar por alguma mensagem escondida - e quem sabe, perto de descobrir um segredo bem guardado - o porco e as ovelhas (ou cabras, dependendo do que o “artista” pretendia) como que ganharam vida repentinamente e os seus olhos iluminaram-se, ameaçando desintegrarem-me ali mesmo com poderosos raios.


Naquele momento, o meu instinto veio ao de cima e tentei desembrulhar-me da situação recorrendo a uma técnica genuinamente lusa: disfarcei e meti conversa.

- Olá, e tal...

Do outro lado nada. Só aqueles olhos iluminados.

- Isto agora anoitece num instante – continuei. Sem resultado.

Fiquei ali mais um bocado a puxar conversa, mas aquilo é gente que não dá confiança. Às tantas, cansado de estar no meio da rua a falar para a parede, fui para casa.


Desta escapei, mas não descanso enquanto não descobrir o que se passa ali.

23.11.07

5 dias, 5 posts, 1 maratona.

Terminou o primeiro ciclo de posts consecutivos. Viciante, mas cansativo. Não tinha previsto fazê-lo, mas depois pensei "olha, e porque não?"

Este blog espera retomar a sua actividade (a)normal na próxima semana.

Tecnologia inteligente


[Ding dong]


Intercomunicador (voz electrónica, tom monocórdico, snob) – Boa noite.

Homem – Oi, abre aí.

I – Quem devo anunciar?

H – Sou eu, pá. Abre lá isso, que está a chover.

I – Eu, quem?

H – Eu, pá, eu!

I – “Eu” não consta da lista de convidados. Boa noite.

[fzzz… desliga]


H – Olha-me este agora…


[Ding dong]


I – Boa noite.

H – Vais abrir ou não? O teu presente está a ficar todo ensopado.

I – Quem devo anunciar?

H – Estás a brincar?

I – Quem devo anunciar?

H – João.

I – João de quê?

H(suspiro) Ai minha vida… João Garcia! O meu nome é João Garcia! Lembras-te? João Garcia, teu amigo há 12 anos?!

I – João Garcia, o alpinista?

H – Não, caramba! João Garcia, o controlador aéreo que teve um dia de loucos e que ainda arranjou forças para vir à tua festa!

I – Queira chegar-se um pouco para a sua esquerda para poder observá-lo no monitor, por favor.



H – Já está?

I – O nariz não corresponde.

H – O nariz não… QUÊ?!

I – O nariz não corresponde. O senhor não é João Garcia, o alpinista.

H – Mas é claro que não!

I – Se o senhor não é João Garcia, o alpinista, por que é que se fez passar por João Garcia, o alpinista?

H – Eu-não-sou-o-João-Garcia-o-alpinista! Oh que… ABRE LOGO O RAIO DA PORTA, PORRA!!

Vizinho (à janela) – Pouco barulho, isto não são horas!

I – O senhor está visivelmente perturbado. Não posso permitir a sua entrada nesse estado. Boa noite.

H – Epá, tu não…

[fzzz… desliga]


[Ding dong]


I – Boa noite.

H – VOU FICAR AQUI A NOITE INTEIRA A TOCAR À CAMPAÍNHA ATÉ ME ABRIRES A PORTA!

I – Au! Ai! Pare de me carregar nos olhos, que isso aleija! Ai! Esteja quieto!

H – Ahh gostas? Eu também sei brincar. Gostas? Gostas? Gostas?


[fzzz… muda a voz]


Dono da Casa (no intercomunicador) – João, és tu aí em baixo? Por que é que não sobes? Está a chover.

H – #@X!! … (pragueja e choraminga um pouco)



A porta do prédio abre-se. João entra e chama o elevador.

Elevador (voz electrónica, harmoniosa e melódica) – Por favor, seleccione o piso pretendido.

H – SEIS!!

E – 6º piso. Por favor, para sua segurança, indique a sua altura, peso e índice de massa corporal.

H – AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!!

22.11.07

O anti-dread


Este boné tem um óbvio problema de atitude. Porquê? Porque não é dread. Não é da street.

Para um boné, isto é gravíssimo. Hoje em dia há apenas uma franja da população a usar bonés, que se divide em: mitras e reformados.

No caso dos primeiros, é puramente uma questão de status. Sem um boné ou um capuz não podem ser respeitados, ponto final. O caso dos reformados é um pouco diferente, dado que todos os anos recebem o seu bonezinho da Sapo ou da festa do avô organizada pela TVI, e, portanto, sem grandes aspirações a triunfarem no duro mundo do Hip-hop, usam-no porque foi grátis.



Há, assim, uma clara aposta dos bonés no primeiro target. Mas para chegarem a ser alguém, é imprescindível um estilo que os defina.

Devem conter símbolos, expressões ameaçadoras e, ocasionalmente, frases-chave como “Bad boy” ou “Margem sul rula”. A ideia é que eu, ao olhar para um boné, possa imediatamente dizer “Yo Yo Yo! Este cap é todo do bufo, chaval!”.



Em vez disso o que é que temos? Um boné branquinho com um sorriso simpático.


- UM SORRISO SIMPÁTICO!!


(suspiro)

O sorriso simpático está completamente errado. Não pode haver simpático! Se tiver de ter um sorriso, que seja um que diga “olha-me só estas bitches todas à minha volta, sócio”.

Este parece dizer “Queres ser meu amigo? Vamos fazer um puzzle?”.


Boné, bacano, se eu fosse um MC – imagina, MC Chinada – e te encontrasse na loja, eu deixava-te lá a ver navios, 'tás a captar? Pensa nisso, brother.


‘Asse bem.

Props a todos os meus manos.

21.11.07

Preguiça patológica

Também designada de “soneira do caraças!”, a narcolepsia "é uma condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono.”

Ou seja, o indivíduo adormece involuntariamente em poucos segundos, sem qualquer hipótese de reacção. Não é preguiça, é doença.


“Não consigo manter as persianas abertas”, confessa o primeiro imóvel narcoléptico da História.

20.11.07

Siameses


Em algumas aldeias perdidas pelo globo foi o choque e a histeria. Os mais velhos acreditavam genuinamente tratar-se da reencarnação de Gnaeshraakmani, antigo deus dos isqueiros, hoje caído no esquecimento.



Por azar, Rúben e Zé Paulo foram nascer (salvo seja) num país ocidental – lado do planeta onde não se faz muita fé na reencarnação e onde a corrida entre ciência e religião é deveras desigual.

Assim, Rúben e Zé Paulo passaram ao lado de uma vida de mordomias e facilidades. Ressabiados? Nem por isso. Perdeu-se um deus, ganharam-se dois valorosos bombeiros sapadores.

Rúben ainda sonhava em ser médico, mas Zé Paulo não era grande amigo dos estudos, e, uma vez siameses, prevaleceu a vontade do mais preguiçoso.


Aos dois manos o meu desejo sincero de que encontrem luz, paz e harmonia nesta vida que lhes calhou. Namaste.
.
.
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P.S.: O Rúben é o da direita.

19.11.07

Cantiga da labuta


Vamos limpar
a porcaria,
sempre a cantar
com alegria.

Alegria porquê?
perguntas-me e bem,
agora que falas nisso
eu não sei também.

Sempre a esfregar
todo o dia até mais não,
eu limpo o lixo
que tu deitas para o chão.

Para lavar
a sujidade
estamos cá nós,
desgraçados, mal-pagos e sem dignidade!

(humm… ok, controla-te)


Fazemos um brilharete
em qualquer superfície,
connosco por perto
nunca há imundície.

Eu não me orgulho
do meu trabalho
mas o entulho
vai para o galheiro.

15.11.07

Uma história de esperança

Deixem-me falar-vos de um cantinho muito especial na internet.


É um blog. Porém não é um blog qualquer.

É um blog com poderes terapêuticos. Comprovados. De todo o mundo chegam-nos relatos de leitores desse bem-dito blog. Contam-nos histórias verídicas de autênticos milagres que nem ciência nem religião conseguem explicar.


Depois de ler esse blog, um homem, desempregado há cerca de três anos, foi disputado por algumas das mais conceituadas empresas a nível mundial para ocupar cargos de grande poder e influência.

Depois de ler esse blog, uma mulher até então estéril engravidou seis vezes de trigémeos em apenas dois anos e meio.

Depois de ler esse blog, um general na reforma, de ar profundamente austero, passou a sorrir e mais tarde adoptou uma criança quase órfã.




Um dia hei-de encontrar esse blog e compartilhá-lo convosco. Até lá, “Macaquinhos no sótão” é só o que tenho para vos oferecer. E é de coração.


E agora que acabo de inscrever esta minha chafarica virtual no Super Blog Awards (à direita) – competição de blogs promovida pela Super Bock – vocês, caros leitores, têm em mãos uma magnífica oportunidade de dar algum retorno a toda a minha dedicação canina.


Na devida altura dar-vos-ei toda a informação necessária para poderem votar.


Não é que eu vá ganhar, apesar de tudo ainda tenho alguma noção da realidade. Mas a cada voto obtido é um pequeno degrau que subo nessa longa e sinuosa escadaria que é o ego de um indivíduo.

Mas se por injustiça divina eu vier a ganhar, iremos todos brindar ao pôr-do-sol com umas Super Bock bem geladinhas. Como fez aquele homem que não tinha os dois braços e que depois de ler o blog…

14.11.07

Essa saudinha?


Consultório, sala de espera:

T1 – Olá, como está? Há muito tempo que não a via.

T2 – Pois é, está boazinha?

T1 – Olhe, assim-assim. Tenho tido problemas de tensão outra vez. É uma maçada.

T2 – Está baixa?

T1 – Antes fosse. Está alta, muito alta.

T2 – Olhe, é como eu. Tensão altíssima. Muito alta tensão. O médico já me mandou cortar no sal.

T1 – Oh, se fosse só isso. A mim já me proibiu de comer.

T2 – Ai foi? Pois, a mim, além de comer, também não me deixa sair à rua, de tão alta que está a minha tensão. É capaz de estar mais alta do que a sua até.


(pausa curta)


T1 – A mim proibiu-me de beber.

T2 – A mim de cheirar cola.

T1 – Pois…

(pausa)




Torre 1 – Mas a sua tensão está assim tão alta?

Torre 2 – Muito alta.

Torre 1 – Ah, veja lá. Coitadinha.

Torre 2 – Nem me diga nada.





(longa pausa)




Torre 1 – Eu agora ando é aqui com uma dor no braço, deve ser reumático.

Torre 2 – Pois, eles deram sol, mas o tempo está a mudar.

Torre 1 – Não, isto é desta passarada que deixam andar aí. Fazem chichi… isto depois oxida.

Torre 2 – Que aborrecimento. Coitadinha.

Torre 1 – Nem me diga nada.

12.11.07

Quem diz é quem é, o teu pai é um jacaré!

Gosto desta variante de político-entertainer, a que chamo de "pedo-ditador", que recorre sem pudor a argumentos de uma criança de 6 anos.

Nem todos podem ser como Santana Lopes. O presidente do Irão ainda se esforça, mas à falta de um bom charme de pacote, há sempre soluções mais baratas.

7.11.07

Penso logo pergunto

Notícia de hoje:
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Menina com quatro braços e pernas operada na Índia.
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Uma equipa de médicos indianos vai realizar uma cirurgia a fim de dar uma vida normal a uma menina que nasceu com quatro braços e quatro pernas.
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(…)
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Alguns habitantes da terra natal da criança, no Estado de Bihar, acreditam que Lakshmi é a reencarnação da deusa indiana da riqueza, que tem múltiplos braços e pernas.”

Fonte: Sol
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Legenda:
- MILAGRE! MILAGRE! É a reencarnação da Deusa!
(pausa prolongada) ...Não, deixa. Afinal é só uma criancinha deficiente.
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Como Ser inquieto, curioso e intelectual que sou (dizem), questiono-me frequentemente sobre a origem das religiões. É triste pensar como tudo poderá ter começado. A mistura de ignorância e ingenuidade tem um efeito nefasto em Humanos.
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Não fosse o facto de vivermos no século XXI, com tecnologia que noutros tempos seria considerada ficção científica, este episódio serviria apenas para perpeptuar mais um mito.

5.11.07

O hábito faz monge, ou qualquer coisa do género.

Ao olharem para um homem a cuspir para o chão, situação tão frequente quanto indesejável, quantas vezes não terão já pensado: “Por Deus, que homem rude! Onde é que terá apanhado hábito tão repelente?”

Aquele arrepanhar da garganta, aquele franzir de nariz, aquele som espumoso de objecto expelido… onde terá começado?


Eu descobri a resposta.



Foi Deus.



“- Herege! Não se brinca com Deus! Vais arder no Inferno!” – já os estou a ouvir.


Calma, eu passo a explicar. Não foi exactamente Deus, mas a Sua casa. A Sé de Lisboa.



Estudos indicam que o secular hábito de cuspir para o chão terá surgido algures em Alfama, embora em data incerta. Está historicamente comprovado. Portanto, nós somos o berço da popular verdusca.

Agora acompanhem o meu raciocínio, por favor. É comum dizer-se que os exemplos costumam vir de cima. Os bons e os maus.

E o que poderia vir mais de cima do que a própria Sé de Lisboa, casa de Deus plantada no topo de uma colina?



“- Disparate! Estás a conspurcar o nome de Deus! Vais arder no Inferno!” – Continuam.


Disparate, dizem. Não se conhecerem a velha Sé como eu conheço.

A Sé, senhoras e senhores, apesar do seu ar sereno e respeitável, foi, na realidade, o primeiro português a cuspir para o chão. Impossível?

Depois do que eu vi, nada é impossível. E o que eu vi foi isto:



A SÉ COSPE… ELÉCTRICOS.


A Sé de Lisboa cospe eléctricos como quem cospe caroços de azeitona.


Quem quiser confirmar a veracidade da minha teoria, basta andar um pouco por ali como quem não quer a coisa, e é vê-la a lançá-los violentamente rua abaixo.

Para quem sempre se interrogou de onde vinham os eléctricos que circulam alegremente pela cidade, aqui tem a resposta. Eles tinham de sair de algum lugar.


Dura veritas, sed veritas. A verdade é dura mas é a verdade.


Agora, se me dão licença, tenho de ir ali arder no Inferno e já volto.