29.11.06

É preciso estômago

À beira de completar 1 mês desde a sua abertura, eis que surge o primeiro teste deste blog.

Nunca foi minha intenção criar aqui um espaço autista, fechado numa realidade e sem retorno de quem o lê. Até porque não há muita gente a vir aqui, portanto é melhor fidelizar os poucos clientes que a casa tem e adiar os meus planos de fundar um movimento que possa uma dia, eventualmete, vir a dominar o Mundo.


OOps, eu disse isto alto?

... bom, não faz mal. Também ninguém me leva a sério, por isso acho que até posso dizer o que quiser em altos berros ou a cantar o tirolês, que o resultado vai dar no mesmo.



O retorno das pessoas, dizia eu, reflecte bem o processo de conhecimento da Verdade. Na maioria das vezes, a primeira etapa é a negação dogmática. "Ver caras em coisas é um perfeito disparate. Pessoas que vêem caras em coisas raramente arranjam emprego ou namoradas".

É uma reacção compreensível perante o desconhecido.

Mas o bichinho fica lá. "Caras? Será? ...Meu Deus, e se ele tem razão? Isso quer dizer que vou ficar como ele?" O espírito da dúvida instala-se e vai corroendo a paz interior. No fundo, mais do que recear dar-me razão, as pessoas têm medo de ficar como eu.

É uma reacção compreensível perante a ameaça da loucura e do descrédito.



Nos últimos dias saí à rua para ouvir o meu público. Foram seis minutos muito agradáveis, em que constatei que as pessoas estão rapidamente a transitar da fase um (negação) para a dois (medo). Pessoas com empregos, segurança social, família, amigos, e, em alguns casos, reputação a defender, vêem, agora, tudo o que conseguiram ao longo dos anos posto em risco ao entrarem numa fase mais avançada do processo. Todas elas assumem que, com mais ou menos esforço, lá vão vendo qualquer coisa. E isso preocupa-as.

É um óptimo sinal.

Significa que estão prontas para a Verdade, desde que isso não lhes custe a sanidade mental. Convenhamos que é preciso ter estômago para reconhecer estas coisas.





E agora o teste da semana.

Isto costumava ser uma empada de frango. Uma vulgar empada e nada mais.










Será que ainda é só isso?

E aqueles olhitos à desenho animado? E aquele sorriso disforme e apatetado? E aquele ar de quem fez asneira e não tem muito jeito para disfarçar?

Que asneira pode uma empada ter feito?

Partiu uma jarra? Recebeu prémios de gestão de uma empresa pública?
Quando se desconhece a realidade da empada, torna-se muito difícil ter ideia do tipo de asneira poderá sair dalí. Mas alguma ela deve ter feito.

Aliás, basta um breve olhar para ela para se perceber logo. Até consigo ouvi-la, num tom grave e arrastado, "BAAHHH! Sou paleeeermaaa..."


Ou isso sou eu? Agora fiquei na dúvida.



Mas por muito que possa ter feito, não consigo deixar de sentir alguma compaixão. Afinal é uma empada, não devemos ser muito duros com ela. Depois de olhar bem para aquela expressão tosca e indefesa, fui incapaz de comê-la. A sensação que me dá é que não seria muito diferente de fazer mal a um deficiente.

- "Este é o Alberto, ele é mongolóide e acabei de apanhá-lo a deitar a tua carteira pela sanita a baixo."

- "Ah, filho d'um cabresto! Anda cá, que te vou comer um braço."


Não me parece ser a conduta mais correcta. E, salvaguardando as devidas diferenças, também não fui capaz de comer aquela triste empada. Alguém o fez logo a seguir, mas não fui eu.

Não tive estômago para isso.

22.11.06

Tecnologia gémea

Inseparáveis.


E com estas carinhas, impossíveis de levar a sério. Talvez por isso ninguém lhes ligue.


São filhos de uma Ursa Menor.

15.11.06

O arlequim de Massamá











Ele lá está, dia e noite, sorrindo a quem passa, no meio do trânsito e da poluição. Por vezes, até dá a sensação de que nos pisca o olho.

O nosso simpático amigo tem cara de quem tem uma boa história para contar, mas ninguém parece querer ouvir.

Aliás, ninguém parece vê-lo ali plantado. É mais um Filho de uma Ursa Menor.





A coroa confere-lhe uma certa dignidade real. Podia ser um reizinho bem-disposto, mas o sorriso aparvalhado deita tudo a perder.

Digamos que está mais próximo de ser um palhaço... Vá, vamos chamar-lhe arlequim.





8.11.06

Este ano foi assim


Podem não acreditar, mas após o post da semana passada, hordas de e-mails inflamados inundaram a minha caixa de correio electrónico.

Metade deles eram spam, com títulos sugestivos como “enlarge your penis now!”, e depois havia uns quantos com críticas por ter infamemente desmascarado a Torre de Belém.

Aparentemente há muita gente com uma ligação quase religiosa ao dito monumento. E já se sabe que quando se mexe com as crenças das pessoas…

A ousadia podia ter-me saído cara, mas nada pode parar a minha mensagem. Eu fui um dos “Escolhidos”, tenho um papel a cumprir.





Mas como nem só de caras vive este blog, hoje decidi não agravar o vosso trauma e falar-vos de outra coisa. Isto convém ir devagarinho porque há pessoas que não estão preparadas para tanta verdade de uma só vez.


Terminou no passado fim-de-semana a 17ª edição do FIBDA – Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. Digam lá que não é uma belíssima sigla?

FIBDA!

Na categoria nomes-nada-fáceis-de-pronunciar-com-cinco-letras-e-particularmente-pouco-atraentes-para-eventos-da-nona-arte, este é, com segurança, dos melhores que já vi.


E o que houve de novo no FIBDA deste ano?

Pouca coisa. O mesmo sumo de máquina, as mesmas editoras a marcar presença, os mesmos critérios duvidosos por parte de um júri duvidoso, os mesmos temas imbecis a concurso e os mesmos cromos intelectualóides que só saem de casa naquela data. Por isso, posso dizer que gostei.

Em equipa que ganha não se mexe. E apesar de tudo, esta fórmula estafada parece continuar a resultar.

A grande novidade acabou mesmo por ser o local. Da estação de Metro da Falagueira, passou agora para o coração da Brandoa. Isto traduz bem a vontade explícita por parte dos responsáveis da organização de quererem livrar-se deste fardo nas suas vidas, enterrando a cada ano o Festival numa Amadora mais negra. Há-de chegar o dia em que conseguirão transferir o evento para a própria Faixa de Gaza, e aí poderão argumentar que não existem condições de segurança para que este se realize.

Estamos a falar do Concelho com o maior índice de criminalidade do país, e da mudança de uma freguesia problemática para outra ASSUSTADORAMENTE problemática. No entanto, há que referir um aspecto positivo: os marginais amantes de BD ficaram a ganhar, visto que o novo local fica uns 500 metros mais à frente do anterior. Já não é preciso roubar um carro só para lá ir.


Na noite da inauguração, cá fora, a confusão era grande: havia fogo de artifício e gangs à solta (provavelmente à coca - esta é a palavra certa - de um autógrafo dos seus autores favoritos).

Não estou bem certo de ter assistido à cerimónia de abertura ou a uma rusga policial, mas foi muito semelhante àquelas notícias de telejornal, onde adolescentes atiram pedras a tanques de guerra enquanto estes passeiam tranquilamente pela cidade.

A certa altura vejo um polícia a avançar para mim. “Estou feito!” – pensei eu – “confundiu-me com um bandido e agora vai exercer a sua autoridade embatendo uma sólida marreta na minha cabeça”. Mas não, fui eu que, ao estacionar, pisei um traço contínuo. Eu percebo o senhor Guarda, é assim que se começa uma vida no crime.

Na verdade não houve problema rigorosamente algum, mas só a ideia de estarmos a andar a pé por um sítio que as estatísticas tornam sombriamente famoso já é suficiente para nos pormos em sentido e a imaginar coisas.


As instalações, no entanto, são bem melhores que a estação de Metro.



Miguel Rocha ganhou o prémio para o melhor álbum. Justíssimo! O seu mais recente trabalho parece-me simplesmente brilhante. “Salazar, agora na hora da sua morte” é visualmente sublime, qualquer coisa entre a tinta da china e a fotografia antiga. Não sei ao certo que técnicas utilizou, ainda não tive oportunidade de vê-lo com mais cuidado; mas de certeza que não me vou arrepender de ter essa maravilha na minha estante.

A disposição da exposição estava bem conseguida, bem menos confusa do que em anos anteriores e com alguns pormenores bastante interessantes.


Num bloco separado estavam os trabalhos a concurso. Mais uma leva de xaropadas a armar ao profundo a dissertar sobre temas com mensagem, como a política, a fragilidade da alma ou o sentido perdido da vida.

MALTA, O QUE SE PASSA CONVOSCO?! Párem com esses elitismos do copo de 3!

É BD, pelo amor de Deus! Não tentem copiar o que viram na edição do ano anterior, puxem por essas cabeças, sejam criativos, brinquem, arrisquem, excedam-se! Se não vos sair nada de especial, não há problema, façam é qualquer coisa que vos divirta. E que nos divirta também.

É um fastio tremendo ter de ler tanta filosofia gratuita aos quadradinhos. É só uma BD, ninguém se quer deprimir ou repensar a sua existência.



...Ou então esqueçam tudo o que eu acabei de dizer, se quiserem vir um dia a ganhar o primeiro prémio. É legítimo pensar assim.


Por agora, fiquem com algumas imagens do que se podia ver por lá.




Para a semana há caras.


...Só para se irem mentalizando.



A&B













Este último foi dos mais aclamados de todo o evento. Considerado unanimente como "a coisa mais mal enjorcada" que por lá se podia encontrar.

Consta que ia levando uma menção horrorosa. Estou satisfeito com o resultado.



1.11.06

Como tudo começou


Eládio Clímaco – tudo se resume a este nome.

Bom, talvez sirva para explicar apenas o início. Eládio, esse grande senhor da televisão portuguesa, e figura de proa no imaginário de várias gerações, apresentava, como era habitual, mais uma edição de Jogos sem fronteiras.

Portugal estava, na altura, ainda mais atrasado na sua corrida para a modernização, e, por isso, programas televisivos como Jogos sem fronteiras e Festival da Eurovisão eram expoentes máximos do entretenimento e do intercâmbio cultural.

Um belo dia à noite, estava eu sentadito no chão da sala, de olhos vidrados na TV, a ver uma emissão de JSF realizada precisamente em Portugal (mais propriamente em Lisboa), quando uma espécie de revelação me é feita:

No final de um jogo, num daqueles planos abertos onde aparecia a tabela com as pontuações de cada equipa, podíamos ver ao fundo a Torre de Belém.

Sim, a nossa Torre de Belém, ex-líbris da cidade de Lisboa e um dos monumentos nacionais de maior relevo. A Torre de Belém, que sempre nos habituámos a ver ali plantada à beira rio, sossegada, imponente, séria, um glorioso legado da nossa História. Hoje, motivo de orgulho dos portugueses; outrora, motivo de respeito dos nossos inimigos.

Pelo menos era a imagem que eu tinha até essa altura. Mas, ao lançar um olhar desatento à Torre, uma súbita luz atingiu-me.

De repente, a Torre de Belém não era mais a Torre de Belém. Ou melhor, a Torre de Belém não era SÓ a Torre de Belém. Era um porco!


Um simpático porco, que parecia dizer “Hi, folks!” a quem ali passasse. Os meus olhinhos incrédulos não queriam acreditar!

Um porco sorridente, como nos desenhos animados ao melhor estilo da Warner Brothers ou mesmo de Walt Disney dos primórdios. Via-se claramente os seus olhinhos inocentes naquelas janelas, a varanda a fazer de nariz e a boca, logo por baixo, com o dentinho a meio - embora, este já tenha desaparecido depois da limpeza que a a Torre sofreu aqui há uns anos. Com um pouco de sorte, ainda podemos ver as patitas de lado e, no topo, o cabelito espetado (sim, um porco com cabelo à Bart Simpson. É estranho, mas a esta altura do campeonato o que é que não é?).




Um porco na Torre de Belém? Qual é a probabilidade?!



Poder-se-ia dizer que os antigos eram senhores de um doentio mas apurado sentido de humor, ou que eu estava a ser vítima de um raide de imaginação infantil, mas eu prefiro acreditar em qualquer coisa maior.


O COSMOS ESCOLHEU-ME PARA ESPALHAR A VERDADE.


Acredito sinceramente nisto. Foi como se, por momentos, uma espécie de universo alternativo se desvendasse todo perante mim. Só a mim.

A Torre estava lá há uma porrada de anos, e nunca ninguém disse “Eh, olha, afinal é um porco!”




A partir daquele momento nunca nada voltou a ser igual para mim. Tem sido um não mais parar de ver caras por tudo quanto é sítio. Umas escandalosamente óbvias, outras nem tanto, e algumas até é preciso dar-lhes uma mãozinha para se revelarem. Mas elas estão sempre lá.


O truque é não pensar muito. Ver caras é um processo imediato. Se pensarmos muito, perdemos tempo e PAM!! fecha-se o portal cósmico.



No entanto, esta tarefa que me coube em sorte tem sido bem mais complicada do que à partida poderia pensar. Eu bem quero mostrar a verdade às pessoas, mas estas perferem jogar pelo seguro e dizer que não vêem nada. Pode ser que assim continuem a levar uma vida normal e não caiam em desgraça como o lunático que têm à frente.

Não as censuro.












Para quem teve a pachorra de ler este texto até ao final só para ver onde é que Eládio Clímaco voltava a entrar, peço desculpa. Foi só mesmo no princípio. Não é que tenha sido por sua causa que eu passei a ver caras em todo o lado, mas a sua voz está intimamente associada ao momento em que descobri que a Torre de Belém era, na realidade, um porco.

Achei que esse simbolismo era bom para agarrar o leitor logo ao início. Mais uma vez, mil desculpas.























A&B

ESTÁ OFICIALMENTE ABERTO ESTE ESTAMINÉ!

Malta, já sabem o churrilho de disparates que vos espera. A partir daqui estão por vossa conta.