28.12.06

Fechar as contas


Já está!

Agora há que recuperar o fôlego para os saldos de Janeiro. Se uma pessoa fica uma semana fora de um centro comercial corre o risco de se desabituar.


Consumismos de lado, que aqui não é lugar, viro-me já para 2007. Certo de que nem o mais ingénuo dos contribuintes espera um ano em grande, por muito que o diga e deseje aos outros, o ano novo merece sempre um carinho especial da minha parte.

É novo, e deve ser por isso. Gosto de pensar num ano que começa como uma nova oportunidade, fresca e livre de vícios. É a altura indicada para corrigir alguns comportamentos e para criar hábitos mais saudáveis. Pelo menos há esperança disso.



... Baahhh, quem é que queremos enganar? O novo ano vai ser igual ao velho, e, com sorte, apanhamos só mais uns feriados à sexta-feira.

Assim, resta-me desejar a todos uma grande entrada em 2007, que essa já ninguém vos tira.

E muita saudinha, que sem isso não tem piadinha nenhuma.




Agora, para acabar o ano em beleza, uma cara. Já estávamos todos com saudades, certo? Sinal de que bem lá no fundo já mora o bichinho da Verdade.

Com as carradas de material de qualidade que tenho aqui para alimentar esse bichinho durante o próximo ano, o gajo vai ficar um Godzilla.

E é chato ter um Godzilla dentro de nós. O tio de um amigo meu teve uma ténia. O Godzilla é capaz de ser mais aborrecido porque a pessoa parece que fica inchada.

Vocês percebem onde quero chegar.





É um rádio, dizem. E pelo aspecto, deve ser indiano.

Esta é tão óbvia, que chega a ser descaramento. Nem vou comentar.

Digam lá que não vêem uma cara agora! HAHAHAHAHAHAHA

A&B

P.S.: DeMascarenhas, esta até tu vês. Hoje escolhi uma fácil para ti, que fazes anos. Parabéns!

20.12.06

Post Al Natal

Este foi, possivelmente, o trocadilho mais infeliz alguma vez utilizado em títulos de posts do blogger nos últimos seis anos.



Estou orgulhoso. E um pouco apreensivo também.




Bom, adiante. Porque esta é uma época de amor, mais amor do que aquele que acontece todos os dias no resto do ano, hoje trago aqui uma Cara Especial de Natal.



(peço desculpa pela escuridão da imagem. Foi de noite e o flash dava cabo do efeito. Percebe-se perfeitamente o coração da calçada)

Afinal quem vê caras também vê corações. Todos em coro, agora: OOOOHHH, que fofo!

É mesmo, está aí o Natal.

Demorou mas chegou. Confesso que até começava a ficar preocupado por este ano não haver Natal. Quer dizer, já estavam aí os anúncios de brinquedos e as campanhas massivas de telemóveis, já estava aí o frio e as maiores árvores iluminadas da galáxia, mas faltava qualquer coisa para ser mesmo considerado Natal.

Não é dia 25 de Dezembro, muito menos quando um Homem quiser. Natal é quando o filme da Ballantine's passa na televisão .

Todos os anos por esta altura, blocos de intervalos inteiros são preenchidos pelo já clássico anúncio do Whiskey, onde se vê a porta de um cofre a abrir e o espectador a ser levado para o seu interior, onde estão centenas de caixas douradas de Ballantine's, todas alinhadas e brilhantes como lingotes de ouro.

Ver este anúncio passar pela primeira vez nesse ano diz-nos claramente: "É oficial, o Natal chegou."

Não o vi ainda na TV em 2006, mas já me cruzei com ele num painel electrónico à entrada de Lisboa. Isto pode ser uma mensagem. Em época de recessão, o Natal não é para todos. Se calhar é só para quem vem no Viaduto Duarte Pacheco. Pode ser, pode ser...

Enfim, chegou e está aí em força. Esta é, para muitos, a quadra mais bonita de todas. A quadra da RESSURREIÇÃO DE SATÃ, sob a forma de cartões multibanco (ou pior, de crédito), celebrada e promovida por organizações secretas de comerciantes.

O amor o quê? Não me querem convencer de que nunca repararam naquele clarão vermelho no olhar das pessoas quando se metem nas lojas.

O quê, pensavam mesmo que aquela história do Jesus pequenino e a estrela e os reis mágicos era verdade? HA HA HA! Não, agora a sério, não se armem em meninos, agarrem mas é nas vossas carteiras e vão enfiar-se num centro comercial antes que seja Janeiro. É que nessa altura vão ter que se enfiar à mesma num centro comercial mas o pretexto já vai ser outro.

Vá, andem!

SCHNELL!!*

* significa "rápido" em estrangeiro. Tenho de explicar tudo!

13.12.06

Mais destaques

Séria miséria


Ele diz adeus ao seu velho piano de cauda, de teclas cada vez mais negras e gastas.
Ela teve nova oportunidade. Agora, foge ao trânsito para levar um cliente ao aeroporto.
Eles olham lá para baixo, para o quintal. A próxima descarga de ódio vai ter de esperar.
Elas acabam de encaixotar o último crucifixo. A fé está pela hora da morte.

Ele, já pouco tinha com que alimentar as suas longas noites de vício no casino.
Ela voaria para longe, se pudesse. Mas uma pulseira electrónica fá-la pensar melhor.
Eles vivem a frustração de serem os únicos pombos com prisão de ventre lá do bairro.
Elas mudam-se agora para um convento mais pequeno e com uma renda mais em conta.

“Ele”, “ela”, “eles” e “elas”, conheci-os andava eu na 4ª classe, num livro de gramática. Sempre imaginei quem seriam.




O desafio foi feito pela Inversus, uma revista lançada há relativamente pouco tempo. Vale bem a pena conhecê-la um pouco melhor.

Davam-me quatro imagens que pouco ou nada tinham a ver umas com as outras e pediam-me um texto que as metesse a todas ao barulho. Esta foi a minha abordagem.

Deu-me um certo gozo trazer este texto ao mundo. Para mim, aquelas quatro imagens eram quatro histórias diferentes, portanto saiu tudo muito rápido. Foi uma quebra no tipo de coisas que escrevo todos os dias. Uma espécie de Kit Kat criativo. Soube bem.

A Inversus vai na edição número 8, acabadinha de sair. Quem não a encontrar por aí, tem sempre a edição on-line. Aproveitei a deixa para incluir o link na coluna do lado, agora com mais algumas novidades.



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"Obrigado por fumar" (cliquem no título para saber mais)

Nick Naylor é pago para falar. Ele é lobista profissional (tradução feita com cuspo de “lobbyist”), ganhando a vida a dar a cara pela indústria do tabaco. E ele é bom, muito bom naquilo que faz, levando-o a ser, por isso, um dos homens mais odiados pela sociedade.

Não é fácil ser-se o advogado do Diabo, mas Nick Naylor faz verdadeiros milagres usando apenas da palavra. Afinal quando se tem um dom, pode funcionar quer para o bem, quer para o mal.

A certa altura lembrei-me de uma teoria que li uma vez sobre pessoas inteligentes que defendem más ideias. Porquê? Porque gostam ganhar batalhas que à partida parecem perdidas. Gostam de ter razão.

E, no fundo, é um bocado isso que trata o filme. Mostra bem a máquina por trás de alguns lobbys, a forma como manipulam a verdade, e como a argumentação se pode tornar uma arma destrutiva.

A história acontece na América, mas numa altura em que a luta contra o tabagismo vai ganhando força um pouco por todo o mundo, acredito que se pudesse passar em qualquer outro país globalizado.

É um filme inteligente, bem-humorado, actual, cheio de ritmo e com um argumento a roçar o brilhante. Cada cena entra exactamente onde tem de entrar, cada fala encaixa com naturalidade no diálogo e tem um tom e um timing perfeitos de comédia. Apesar de não contar com muitos nomes sonantes no cartaz, tem interpretações bastante bem conseguidas.

O estreante Jason Reitman conseguiu uma obra surpreendentemente consistente, que mistura talento e um valente sentido crítico.

Confesso que entrei no cinema sem estar à espera de grande coisa. Vi o título algures e na altura não o achei lá muito sugestivo, mas depois li uma sinopse e fiquei curioso. As desconfianças foram todas ao ar logo ao início. É um filme que agarra desde o primeiro minuto (com uma belíssima entrada até a fazer lembrar – embora só um bocaducho – “Snatch” ou ”Ocean’s Eleven”).

Vi-o na sala mais ranhosa que o Alvaláxia podia apresentar: ficava lá para as caves, era pouco maior que o meu quarto, e com meia dúzia de cadeiras que tinham sobrado das salas grandes. Mas até agradeço. É da forma que vejo um filme confortavelmente instalado, sem os roedores compulsivos de pipocas.

Infelizmente, este filme é capaz de passar ao lado de muito boa gente. É outro filho de uma Ursa menor.

6.12.06

Vamos aos destaques, Professor.

Não consegui resistir à tentação avassaladora de trazer aqui ao estaminé uma verdadeira pérola da literatura popular. Uma pérola digna da ostra mais ranhosa, a viver bem no fundo de um qualquer afluente manhoso de um rio extremamente poluído com fábricas de têxteis junto às margens.

Nem todas as ostras se podem dar ao luxo de viver no centro do mar. Ao preço que isto está, muitas têm de se sujeitar à periferia. E parece que estou a ver esta ostra no seu T0, uma cave virada para um beco, com grades nas janelas e flores de plástico, enquanto se ri e defeca disparatadamente ao ler esta pérola que vos trago aqui hoje.





SIM, "O Livro da Galhofa" existe!

Não é um mito, alguma coisa tinha de servir de base a séries do género d'"Os malucos do riso". Não acredito que aquela piada toda fosse fruto da inspiração dos actores. Este livro é a sua Bíblia.

E promete, senão leia-se os quilos de informação que vêm na capa.

Quando pus os olhos nisto ia ficando em transe. Não sei o que é que é melhor aqui.

É ter logo uma anedota na capa? É a linha que define o público-alvo desta publicação, ainda que deixem subentendido de forma bem humorada que é para toda a gente? É aquela ilustração perfeitamente inenarrável? São as cores? Ou será o simples facto de ter GALHOFA no nome?

Seja o que for, parece estar a vender bem, uma vez que já vai na 5ª edição.

Vamos ver o que contém o livro que tem esta capa. Antes de mais o prefácio. Qualquer livro de respeito abre com um prefácio, que não é mais que alguém de renome a fazer festinhas ao ego do autor do livro.

Acontece que um livro que tem uma capa destas, tem também um sério problema de marketing, tecnicamente apelidado de "bizzaria-impossível-de-vender" (ou em inglês, "crap book"), logo dificilmente seria prefaciado. Apesar disso, o autor não se deixou abater e tratou ele mesmo de puxar os galões ao seu livro.

Que lógico, por Deus!

"Quando lemos livros de anedotas, aprendemos anedotas. Quando lemos livros de outras coisas, aprendemos sobre outras coisas."

Só uma inteligência tão singular é capaz de nos fazer ver as coisas com esta clareza. Não sei como é que vivi tantos anos na confusão. Existem dois tipos de livros, a saber:

- livros de anedotas, onde se aprendem, como o próprio nome indica, anedotas.

- livros de outras coisas, sendo que os temas podem variar entre filosofia, física quântica, história, pintura ou gastronomia tradicional.

Por que será que a Fnac insiste em complicar tanto, dividindo aquelas estantes todas com temas e mais temas?

Para quem ainda não conseguiu ultrapassar o choque de saber que também existe "O Livro da Risota", lamento informar que esta extensa colecção contém ainda temas como "O Livro da Paródia", "Vamos Rir", "Rir... Até mais não!", "O Sabidão" ou "Adivinhas Divertidas".

Para quem ainda não ultrapassou o choque de saber que a Torre de Belém é, afinal, um porco... terapia pode ser uma solução, mas umas férias também ajudam.

Preocupa-me que o senhor Nunes dos Santos possa acreditar genuinamente que alguém vá contar aquelas piadas para algum lado. Só um fundamentalista poderia acreditar assim tanto no potencial destas anedotas. A menos que as suas intenções não sejam honestas. Preocupa-me, acima de tudo, que ele se dirija ao público infantil. Aquelas cabecinhas frágeis são sempre um alvo fácil.

As piadas são assim:

AAHHH, eu vi isso! Estavam a rir, não mintam!





Pormenor: As piadas têm título e estão alfabeticamente arrumadas (embora não muito bem. Acho que a certa altura o tipo perdeu a paciência. Ou então apercebeu-se do que estava a fazer... também é uma hipótese.)

Uma piada que tem título anuncia claramente a quem a vai ler "Atenção! Isto é uma anedota. É pouco provável que te venhas a rir no final."

Algumas nem sequer têm título, apenas uma moral da história - antes da história.

Outras nem anedotas são. Talvez se encaixem na categoria de "lição para a vida, petizes". Certo é que nem resultam quando escritas. São piadas visuais, que de outra forma não se compreendem. Mas isso não impediu o senhor Nunes dos Santos de incluí-las no seu livro.

Delicioso!

OK! PÁRA TUDO!

Momento alto do livro, este em que nos deparamos com o melhor nome de sempre para anedotas, lendas ou histórias populares: ZÉQUITOLAS.

Vai ser difícil bater este portento.


GNHRGH...

Admito, que esta até me fez esboçar um sorriso. Mesmo quando eu não estava à espera.

Mas não me orgulho, não foi por vontade própria. Escapou-se.

Não é, definitivamente, pela forma como está contada, mas a ideia tem alguma piada. É de uma simplicidade capaz de fazer "cócegas no cérebro". Acho que consigo vê-la num número de Raúl Solnado.

Ainda assim, o sentimento de culpa está a dar cabo de mim.


Acho que já chega de bater no ceguinho.

Este livro é um pequeno mundo. Havia muito mais para dizer, mas acho que o essencial já está. Falta só um pormenor, que talvez ajude a explicar muito da natureza desta obra. A editora é do Porto.

Depois desta, resta-me só deixar-vos com o verso, também ele recheado de graçolas e com um argumento de vendas fenomenal mesmo no final.

Não fosse tê-lo já ao lado d'"As lições do Tonecas" no meu armário sagrado, eu queria que mo oferecessem no Natal.