28.5.08

O drama dos carteiros revisitado

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Carlos Fernandes, 27 anos, carteiro há três. Largos meses após o seu pedido, conseguiu finalmente a tão desejada transferência para Trás-os-Montes. “Lá o pessoal até pode ser meio bruto, mas ao menos já não tenho de aturar isto”, diz.


Nuno Viana. Aos 51 anos conseguiu reforma antecipada, alegando princípio de esgotamento. E nem precisou fingir-se de maluco.


Marcelo Baiano, 35 anos, obviamente brasileiro. Actualmente desempenha funções de segurança num bar de alterne. Sobre a sua anterior ocupação diz: “Tava dando mais não. Todo o santo dia a mesma coisa. Eu só queria fazer meu trabalho direitinho, e o cara lá judiano de mim, me mordendo, botando as carta de novo pra fora. Pô, eu joguei pedra na cruz!


Vítor Pacheco, 22. Não é que quisesse ser carteiro desde pequenino, mas está a tirar engenharia em horário pós-laboral e como não tem papás ricos este curso está a sair-lhe directamente do couro. E de que maneira! Quando liga ao pai, quase à beira do choro, diz que a continuar assim não sabe se consegue. O pai responde-lhe invariavelmente o mesmo: “Aguenta-te, rapaz. Isso forma o carácter.


Amadeu Matos, não revela a sua idade, mas diz que é do tempo em que havia respeito pelos que trabalham. Também diz que por pouco não foi um dos Sheiks. É o único ainda a fazer aquela rota, mas aconselha todas as pessoas a enviarem e-mails em vez de cartas de papel.



Afinal o que temem estes profissionais?

Cães? Não, esse tempo já lá vai. O novo terror dos carteiros é isto:

Cerca de 50 X 20 cm de puro mau feitio.

23.5.08

José Miguel diz:

- Touro -

Carta do dia: A Noite. Isto significa que boa parte dos seus dias serão preenchidos pela noite.


Dica Mística: Com o seu Planeta Regente em trânsito na fila do pão, sentirá em breve as suas forças interiores renovadas. Aproveite para aplicá-las em qualquer coisa de útil. Ajude um imigrante a legalizar-se. No amor, não sufoque a pessoa amada, pois homicídio por asfixia continua ser crime, e, por isso, condenável. No trabalho, as suas capacidades profissionais serão amplamente recompensadas... AH espere, esta não é para si, é para Capricórnio.

14.5.08

A minha noite dava um livro

Nota prévia: este post está um bocado longo, mas não havia outra maneira de descrever o que eu presenciei. Para facilitar a leitura, separei a história em capítulos. A papinha toda feita... sou mais que vosso pai.

Outra nota prévia: queria muito colocar aqui os vídeos que eu mesmo fiz, mas foi-me tecnicamente impossível. Por isso, seguem os disponíveis no myspacetv.



Era uma Sexta-feira à noite como qualquer outra. Mas só até eu ter tido a pior ideia possível numa Sexta-feira à noite.


A história conta-se mais ou menos assim:







Preâmbulo

Andava eu descontraidamente pelo Bairro até que dei comigo à porta da galeria Zé Dos Bois (ZDB) e decidi entrar.

A ZDB, para quem não conhece, é um espaço destinado a concertos e exposições, rotulado de “alternativo”.

“Alternativo”, trocado por miúdos, significa que se apresenta como alternativa às estéticas culturais adoptadas pelas massas. “Alternativo” também serve para classificar tudo o que não tenha lá muita qualidade. Neste caso, a regra é “Não gostas? Isso é porque não compreendes. É… alternativo.


A ZDB é, assim, uma lotaria. Nunca se sabe o que pode sair.

À porta da ZDB lembrei-me que tinha lido que lá ia haver um concerto nessa noite. Sobre Angel Eyedealism, a estrela, uma espécie de discípula de Goldfrapp, diziam: “É-lhe atribuí­da uma elegância bizarra. O seu espectáculo revela toda a energia contagiante, com o brilho e a fantasia que lhe são inerentes.

Não conhecia a senhora, mas por curiosidade resolvi entrar. Elegância bizarra e Goldfrapp, agradam-me. (Sim, eu estava a pedi-las!)










Capítulo I

A primeira parte estava reservada aos senhores do vídeo postado aqui ontem. Dois músicos portugueses, Nuno Rebelo & Marco Franco, que nos traziam “Pocketbook of Lightning”. Vamos ver um pouco.

pocket book of lightning


Portanto ainda estão a aprender a tocar, não é? Ainda estão naquela fase de descoberta em que, tal como uma criança de três anos quando recebe um instrumento de brincar pelo Natal, desata a bater desajeitadamente com ele no chão e a sorrir. É quase fofo, não fosse a eternidade que isto durou.

É que durante horas a única coisa que acontecia em palco eram dois tipos, um na bateria e outro na guitarra, a produzir sons. Sons soltos, sem melodia, sem ritmo, sem fio condutor nem qualquer coisa que se possa associar vagamente ao que conhecemos por “música”. Ruído.

Bom, posso estar aqui a ser injusto. Se calhar eu é que não compreendi bem o conceito, porque afinal é tudo… alternativo.




Há duas formas de se olhar para um show deste tipo.

Uma é vestir a pele do pseudo-intelectual, com uma postura séria e concentrada, de quem está a apreciar o que nenhuma pessoa normal consegue gostar.

Outra, a minha preferida, é rir.

Rir da minha desgraça. Rir do esforço da plateia para tentar levar aquilo a sério. Rir por sentir-me gozado pela malta da Zé dos Bois. Rir para não chorar.




Estava a ser doloroso. Ao cabo de quarenta minutos as pessoas começaram a sentir-se desconfortáveis. Já sopravam de tédio, já se levantavam para ir buscar jolas, já abandonavam a sala. Eu? Rezava, um bocadinho. A fé surge nos momentos de maior aperto, dizem.










Capítulo II

Surgiu do escuro, por detrás do público, um vulto que deslizou para o palco. “Por Deus! É um louco e vai matar-nos a todos!” – pensei.


Não era. Era Angel Eyedealism. (Vale a pena explorar o seu myspace)

Percebam o meu medo. Estou a falar de uma imponente senhora de 2.10 m e formas generosas (eufemisticamente falando), apresentando-se com um corpete, calças sem fundo, pestanas de 15 cm, maquilhagem rosa choc, cabelo inexplicável e uma malinha de mão. Qualquer coisa que terá resultado do cruzamento improvável entre Vasco Uva e uma dama da Belle Époque, ou Carnaval de Torres e Corpse Bride. Fantasmagórico!


Chegou com um ar agressivo e cheia de atitude, a disparar em todas as direcções. Disse que os músicos antes dela não valiam ponta de um corno (aqui sou obrigado a concordar), acusou os portugueses de serem todos uns atrasados e sexualmente reprimidos e ainda arranjou espaço para ir fazendo manguitos aos mirones curiosos que passavam na rua. Como bónus, mostrava-lhes também o seu gigantesco traseiro a descoberto nas calças sem fundo.


Pousou a malinha numa mesa, abriu-a, e começou a tirar dildos lá de dentro. Apresentou-os: “São os meus amigos.


A parte “bizarra” confere. Falta a elegância.


Começou a música. Microfone normal na mão direita, microfone com distorção na mão esquerda. O sampler fazia o resto. O resultado?

Angel Eyedealism EPK 2006


É abrir a goela e vai de cantar tudo a eito, fora de ritmo e de tom, e gritando sempre que pode. De facto, essa é mesmo uma das suas particularidades: a meio da música, a senhora decide introduzir guinchos absurdamente estridentes que ela considera uma mais-valia artística.

Acreditem, aqueles guinchos não são humanos. Eu presenciei, é qualquer coisa entre um extraterrestre e uma morsa do árctico. Ao fim da primeira música percebi que ela não era discípula de Goldfrapp, mas de Ninfa Artemis.


Angel Eyedealism - Skype Call



As letras são simplesmente imbecis, com tiradas como “I had a party at my house, Christopher Walken was there”, frase que ela repetiu ininterruptamente durante uns vinte minutos até se cansar.

Pelo meio, ia interagindo com a plateia. Metia-se com as pessoas, sentou-se ao colo de dois espectadores inocentes (volto a lembrar que ela deve pesar o equivalente a um dragão), até que, a certa altura, entendeu que tinha de obter um orgasmo em público.

A coisa descambou de vez!

Pegou num dos seus “amigos” e enfiou-o por dentro das calças enquanto continuava a cantar. O público entreolhou-se tentando perceber se aquilo fazia parte do espectáculo.

Ela não conseguiu continuar, disse que se sentia demasiado intimidada. (ELA é que estava intimidada?!)










Capítulo III

A noite terminou como só podia terminar depois de um freakshow daquele calibre: mal.


Impulsionado pelo álcool, por um acesso de ego ou apenas por compaixão para com todos os que estavam agarrados às cadeiras a sofrer, Marco Franco, o baterista da primeira parte, decidiu intervir. Invadiu o palco de baquetas em punho e pôs-se a tocar bateria.

A confusão instalou-se, Angel Eyedealism saiu de palco a protestar, Marco Franco, ignorando toda a gente, tocava sozinho como se estivesse no Live Aid e os ânimos do público exaltaram-se.



Não esperei mais para ver como tudo acabou, mas para mim, um final à altura era a PSP entrar e levar tudo para o xelindró. Eu é que achei que devia ir andando.


O trauma já ia grande e tinha muito que contar ao meu psicoterapeuta. Ele é pago à hora.

13.5.08

Sexta-feira foi assim

Hoje é Terça e ainda não percebi o que aconteceu.

Nos próximos dias irei discutir o assunto com o meu psicoterapeuta e depois conto-vos.

9.5.08

Poesia de andaime

Nota prévia: Este post tresanda a testosterona barata. Aconselha-se o público mais sensível a não ler. Retomaremos a normalidade logo que possível.



Confesso que sou genuíno admirador da conhecida “Poesia de andaime(também conhecido por “charme do trolha”). Sou mesmo.

Acho toda aquela falta de tacto que a caracteriza tão maravilhosamente grosseira que me faz uma espécie de faísca no cérebro e me põe a rir até mudar de cor. Por isso, já era altura de lhe dedicar um post.


Para que possamos apreciar algumas das mais sublimes tiradas, convidei um especialista.

Boris está no nosso país há dois anos, legal há uma semana, e já domina completamente o português, apenas com um ligeiro sotaque eslavo. Quando chegou contou com a ajuda dos companheiros para se adaptar. Boris aprendeu muito rapidamente o básico e hoje pode dizer-se que está perfeitamente integrado.


Boris, força, mostra-nos do que és capaz!



Hum-hummm (a pigarrear um pouco)



- Ò doce, anda cá fazer uma festinha ao tareco.

- A ti não te custava nada e a mim sabia-me tão bem.

- Ò filha, aperta aqui que é fofo.

- Contigo era até encontrar petróleo.

- Se o teu cú fosse um banco, fazia uma poupança à taxa fixa.

- Podia ficar um mês a cagar trapos, mas comia-te com roupa e tudo.

- Ò filha, com um cuzinho desses deves cagar bombons.

- Posso tocar no teu umbigo por dentro?

- Minha senhora, troco a sua filha por um piano. Assim, podemos tocar os dois.




E para o final, o clássico, simples e bonito:

- Ò fofa, anda cá dar um beijinho ao trolha.




Bravo, Boris, bravo!

Obrigado. Agora vai trabalhar senão este mês não tens nada para mandar à tua mãezinha lá nos Urais.





P.S.: A decência impede-me de publicar aqui algumas das mais explícitas ou retorcidas (bota retorcido nisso) mas que não ficam nada atrás desta pequena demonstração que Boris acabou de fazer. Felizmente, tenho um magnífico PDF onde estão reunidas as maiores pérolas do género. Quem quiser, é só enviar um mail a pedir. mandamailaomiguel@yahoo.co.uk

Vale bem a pena.



P.P.S.: Sim, alguém se deu ao trabalho de pesquisar e compilar tudo num documento. Não pretendo ficar com os seus louros, os meus agradecimentos a Luis Coelho. Merece um aplauso.

5.5.08

Converti mais um

Algures numa agência de publicidade, alguém veio a este blog beber desse imenso lago que é a inspiração.
(poético!)



Bem-vindo à comunidade.

(É bom saber que o meu esforço não é em vão.)