30.5.07

O estado da cultura em Portugal

é mais ou menos este.




Já abriu em Lisboa mais uma edição da Feira do Livro.


A organização da Feira do Livro queixa-se da baixa afluência de público. Ok, estão lá sempre aqueles fanáticos que todos os anos saem de casa por esta altura com a missão de encontrar verdadeiras pechinchas, mas o número não é significativo.


É o alheamento da população que está na base desta situação embaraçosa.


Pode-se dizer que o país está a emburrecer?


Pode. Mas neste caso, talvez essa não seja a única explicação.




O facto é que a Feira está de volta mas sem qualquer inovação.


Como todos os anos, a Feira do Livro de Lisboa vende... livros. Coerente, eu sei. Mas irrelevante.

Lá podemos encontrar os mesmos livros que encontramos todo o ano nas lojas, praticamente aos mesmos preços. Com Fnacs, Bertrands, Bulhosas e até Internets, a oferta da Feira pouco acrescenta. Então o que é que me leva até lá? A tradição?


O que é que faz com que deixe de folhear calma e confortavelmente os livros para ir vê-los de longe, sujeito a encontrões e a ter de levar com um livreiro a olhar-me com cara de "vais comprar isso ou quê?"?


É uma má troca.


Para mim, a Feira precisa de mais argumentos - novos argumentos - ou corre o risco de se tornar mais um caso típico de não-saber-acompanhar-os-tempos, tão comum em Portugal.

Um pouco à semelhança do Festival da Canção: outrora um grande acontecimento que sugava a atenção do país e marcava espaço na sua agenda cultural; hoje, um evento banalizado.


Ainda assim, vale sempre a pena lá ir. Mesmo que seja só para não me darem razão.

23.5.07

Via mal

- O amigo bai desculpar-me, mas num se importaba de retirar o ticket, que eu bejo tudo berde desta bista?

16.5.07

Sob pressão

(Música de genérico de talk-show)


Apresentador – Boa noite, sejam bem-vindos, hoje vamos ter um grande programa. Temos aqui connosco o protagonista de um caso bastante mediático que aqui há uns tempos encheu primeiras páginas de jornais. Vamos conhecê-lo um pouco melhor. Olá Manuel, obrigado por ter vindo.

Entrevistado – Olá, antes de mais, boa noite, eu é que agradeço o vosso convite para estar aqui.

A – Posso tratá-lo por Manuel?

E – Claro.

A – Manuel, a história que a comunicação social veiculou era a de alguém que tinha chegado aos píncaros do desespero, levando-o a praticar actos de loucura. O que aconteceu exactamente?

E – Olhe, nem eu sei bem. A minha vida estava um grande bafafá e só sei que quando dei por mim estava barricado numa casa de banho aos gritos que me matava que me matava ai Jesus que me matava. Lembro-me que mal tranquei a porta já estava a carrinha da TVI lá em baixo para a reportagem. Acho que foi aí que me deu o clic. Ao ver aquela gente lá fora apercebi-me de que ficar ali não me ia levar a lado nenhum.

A – Reparei que utilizou o termo “bafafá” ainda agora. Foi algo que lhe ficou desse episódio traumático?

E – Não, eu tenho um dicionário de sinónimos que a minha filha me ofereceu. Achei que ficava bem em televisão.

A – Muito bem. Diga-nos, Manuel, por que é que chegou a esse ponto?

E – (Pausa para comoção. Voz ligeiramente embargada) Estava sob muita pressão. Andava a trabalhar muito, todos os dias era pressão pressão pressão e mais pressão. Os meus colegas diziam-me para ir com calma, que eu não podia pôr-me a apitar daquela maneira porque ainda me fazia mal.

A – O Manuel apitava?

E – Sim, tal era o stress. E outras vezes punha-me a andar à roda sozinho.

A – Estamos agora a ver fotografias suas da altura. Estava, realmente, com um ar bastante perturbado.


E – Pois.

A – Continue, continue.

E – Era um calor, um calor, assim muito abafado. Parecia eu que estava numa estufa. A suar, sempre a pingar pelas costas. E depois o cheiro a brócolos…

A – A brócolos?

E – A brócolos, nem lhe conto. Ui! Cenoura, hortaliça, brócolos, aquilo parecia um cozido.

A – Podia ser da canalização?

E – Não, era cozido mesmo, vim mais tarde a saber.

A – O nosso tempo está a acabar, conte-nos, muito rapidamente, como conseguiu ultrapassar essa fase negra da sua vida.

E – Tive de admitir que tinha um problema com o stress. Juntei-me a um grupo de apoio a workaholics e larguei o meu emprego naquele restaurante em Alcântara.

A – Já existem grupos desses no nosso país?

E – Já, e são muito bons até. A Dra. Filipa Vacondeus e o seu trem de cozinha Ideiacasa fazem um belíssimo trabalho.

A – Ideiacasa não é aquele que tinha um jingle muito giro que era "Pegue no auscultador..."

E – "...ideiacasa, AO SEU DISPOR!" É esse mesmo.

A – Manuel, está completamente restabelecido?

E – Sim. Ainda estou a finalizar o tratamento, mas felizmente hoje já posso dizer que estou como novo.

A – Muito bem, Manuel. O seu registo é, de facto, impressionante, e um exemplo de coragem a seguir por quem esteja a passar por situações como a sua. Muito obrigado por ter vindo. Nós ficamos por aqui, mas voltamos para a semana com o tema “A bulimia endireitou-me a vida”, com a convidada Bimby. Boa noite!

10.5.07

Pedimos desculpa pela interrupção


Este blog retomará a sua actividade logo que possível.

2.5.07

Vamos ao circo!

Senhoras e senhores, meninas e meninos, palmas para o telefone-palhaço!



Oiçam aqui a banda sonora que vai acompanhar o post.


Este nosso amigo faz rir miúdos e graúdos com o seu jeito trapalhão e distraído. Miúdos, ok é normal; graúdos, só alguns mais debilóides com episódios de infância mal resolvidos. Mas faz rir.



O problema é que não era suposto ele fazer rir. Estamos estamos a falar de um telemóvel, portanto serve para comunicar. Eventualmente terá um zilião de outras funções acopladas (a maior parte sem qualquer utilidade) mas fazer rir ainda não é uma delas.

E, convenhamos, pode tornar-se bastante incómodo em certas alturas:


[ao telefone]


Voz Feminina – Multilabor, boa tarde.

Voz Masculina – Boa tarde, eu estou a ligar por causa do anúncio no jornal. Gostava de marcar uma entrevista, pode ser?

VF – Com certeza. O seu nome, por favor?

Telefone-Palhaço – (falsete irritante de palhaço) Zézé do boné!

VF – Desculpe?

VM – Jorge. Jorge Matias.

VF – Senhor Jorge, fale-nos um pouco de si. Não se preocupe, isto ainda não é a entrevista, é só para termos uma ideia do perfil do candidato. É mais fácil para nós.

TP – Tenho um grande nariz redondo, todo vermelhooo. Xou piquenino, muito muito muito divertidooo, e todas as crianxas goxtam de mim!

VF – HÃ?!!

VM – Peço imensa desculpa. Linhas cruzadas, sabe como é. Às vezes acontece.

VF – Sim, estou a ver… Passemos à frente, tem experiência profissional?

VM – No ano passado trabalhei n…
(interrompe)
TP – no circo Cardinali. Xei faxer malabarixmo, xei domar elefantes e conxigo tirar lenxos coloridos do bolxo xem parar. Max gosto mexmo é de faxer rir.

VF – Bom, é óbvio que o senhor Jorge não está a levar isto a sério. Se calhar não é boa ideia marcar esta entrevista.

VM – Não, a sério, pode marcar. Isto é do meu telefone, ele às vezes faz isto.

VF – Claro. Mas talvez fosse melhor procurar qualquer coisa mais na sua área. Boa tarde.

Tuuuuuuu (desliga)




TP – Não fiques trixte. Olha, Cheira lá esta flor que eu tenho aqui.