O hábito faz monge, ou qualquer coisa do género.
Ao olharem para um homem a cuspir para o chão, situação tão frequente quanto indesejável, quantas vezes não terão já pensado: “Por Deus, que homem rude! Onde é que terá apanhado hábito tão repelente?”
Aquele arrepanhar da garganta, aquele franzir de nariz, aquele som espumoso de objecto expelido… onde terá começado?
Eu descobri a resposta.
Foi Deus.
“- Herege! Não se brinca com Deus! Vais arder no Inferno!” – já os estou a ouvir.
Calma, eu passo a explicar. Não foi exactamente Deus, mas a Sua casa. A Sé de Lisboa.
Aquele arrepanhar da garganta, aquele franzir de nariz, aquele som espumoso de objecto expelido… onde terá começado?
Eu descobri a resposta.
Foi Deus.
“- Herege! Não se brinca com Deus! Vais arder no Inferno!” – já os estou a ouvir.
Calma, eu passo a explicar. Não foi exactamente Deus, mas a Sua casa. A Sé de Lisboa.
Estudos indicam que o secular hábito de cuspir para o chão terá surgido algures em Alfama, embora em data incerta. Está historicamente comprovado. Portanto, nós somos o berço da popular verdusca.
Agora acompanhem o meu raciocínio, por favor. É comum dizer-se que os exemplos costumam vir de cima. Os bons e os maus.
E o que poderia vir mais de cima do que a própria Sé de Lisboa, casa de Deus plantada no topo de uma colina?
“- Disparate! Estás a conspurcar o nome de Deus! Vais arder no Inferno!” – Continuam.
Disparate, dizem. Não se conhecerem a velha Sé como eu conheço.
A Sé, senhoras e senhores, apesar do seu ar sereno e respeitável, foi, na realidade, o primeiro português a cuspir para o chão. Impossível?
Depois do que eu vi, nada é impossível. E o que eu vi foi isto:
A SÉ COSPE… ELÉCTRICOS.
A Sé de Lisboa cospe eléctricos como quem cospe caroços de azeitona.
Quem quiser confirmar a veracidade da minha teoria, basta andar um pouco por ali como quem não quer a coisa, e é vê-la a lançá-los violentamente rua abaixo.
Para quem sempre se interrogou de onde vinham os eléctricos que circulam alegremente pela cidade, aqui tem a resposta. Eles tinham de sair de algum lugar.
Dura veritas, sed veritas. A verdade é dura mas é a verdade.
Agora, se me dão licença, tenho de ir ali arder no Inferno e já volto.
1 Comentários:
Até pode ser que tenhas razão. Mas, confesso, tenho as minhas dúvidas que fosse a Sé a ser o “primeiro português” a cuspir para o chão. E acho isto porque a Sé tem um ar sereno e respeitável? Não. Apenas porque a Sé foi mandada construir em 1150 e o primeiro eléctrico que circulou em Lisboa só apareceu em 1873, mais de 700 anos depois.
Agora, pode ter acontecido que durante esses 700 anos, a Sé estivesse entretida a treinar para cuspir mais tarde os tais eléctricos. Só não estou a ver é que raio de coisa ela andou a cuspir.
Sempre seriam os caroços de azeitona?
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