26.4.07

25 de Abril sempre!

Ontem não postei. Motivo: feriado.


Celebra-se a Liberdade.


Há 33 anos, o povo farto da miséria e da repressão não aguentou e disse “basta!”

Na madrugada de 24 para 25 de Abril, as forças revolucionárias avançaram para Lisboa, apoiadas pelo povo, e puseram fim a 48 anos de terror político e social.

O regime, já a cair de podre, caiu de vez. E tudo aconteceu sem derramar uma única gota de sangue, sem disparar uma só arma.





Toda esta história é muito bonita, mas não me convence.

Fazer uma revolução sem dar um tirinho sequer? Não me venham com balelas. Eu vejo telejornais e sei que quando há sarilho, pelo menos uns quantos civis dão em refugiados ou vão para o maneta. Isto quando não lincham publicamente o ditador em questão (que, por acaso costuma dar imagens interessantes para os noticiários).

Na pior das hipóteses, alguém é mergulhado em alcatrão e penas. Mas aqui, pelos vistos não sabem fazer as coisas. Que ideia foi aquela de meter flores nas espingardas? Que raio de golpe de Estado veio a ser este?!


Não. Para mim há aqui qualquer coisa escandalosamente mal contada, e ninguém parece querer saber como realmente foi. Estão todos satisfeitos assim.

Mas eu fui investigar e encontrei isto.





O que foi, então, o 25 de Abril?

Um problema com torneiras que deu para o torto? A EAPL tem alguma coisa a ver com esta história? Quem é que está por trás disto, afinal?


Na verdade, a queda do antigo regime foi encomendada a uma empresa portuguesa especializada em revoluções e golpes de Estado. Como o orçamento era curto, não deu para as balas. Foi tudo à base de canções orelhudas e flores coloridas. E funcionou tudo às mil maravilhas. Eles são profissionais.


“Revolta” foi montada a partir de um micro-crédito, e a avaliar pela quantidade de conflitos espalhados pelo mundo, não se têm dado nada mal. Há muito mercado por aí, só foi preciso uma boa ideia.




Insatisfeito com a falta de condições de vida?

Saturado de promessas sempre adiadas?

Preocupado com o rumo que o país está a tomar?

REVOLTE-SE!


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18.4.07

Mediocridade às 07h15


Maquinista é uma profissão dura.




Não é nada daquilo com que sonhamos em criança.



Mais duro ainda para os que apanham os primeiros turnos do dia. Vejamos o José Rui, por exemplo. Ele pega às 06h30.

Todos os dias a acordar antes do sol nascer, de Inverno e de Verão. Liga a televisão da cozinha e toma o pequeno-almoço na companhia das televendas.

Todos os dias a fazer o mesmo percurso, sempre com as mesmas paragens, sempre às mesmas horas. Os carris não dão espaço ao mais pequeno desvio.

Todos os dias à espera do fim do mês, mesmo que isso signifique apenas um cheque magro, amarelo e desinteressante.





A vida de José Rui podia ser mais cinzenta, não fosse a intervenção de alguns filhos de uma ursa menor. Estes seres cósmicos podem ter um impacto bastante positivo na vida de uma pessoa, não estão cá só para chatear.


Olharam para o Zé Rui e decidiram fazer alguma coisa para melhorar a sua qualidade de vida.





Agora, no seu enfadonho trajecto diário, ele tem sempre um “Bom dia, senhor maquinista!” sincero à sua espera. De alguém (!) que deseja realmente que o Zé Rui tenha um dia agradável.


Sim, Zé Rui é um bocadinho mais feliz.

Embora pouco.



"Estás triste? Se eu tivesse a tua vida, também estaria. Apre! HAHAHAHAHA!

Não, agora a sério, bom dia, pá."

11.4.07

Lógica

(clicar na imagem para ampliar)


Em petiz, aprendi a cadeia alimentar. Na minha cabeça, tudo estava claro como água: as ervas eram comida para os animais, e os animais eram comida para a Valentina Torres (que aqui representa toda a humanidade). Mal sabia eu no que esta senhora se viria a transformar uns anos mais tarde.


…Ou sabia?

Este trabalho data de 1987 ou coisa parecida, na era pré-McDonalds em Portugal.


Bolas, eu era um puto mesmo muito à frente!




(Tinha de haver uma explicação plausível para as más notas constantes.)

4.4.07

Os ares do campo

“AH, não há vida como a do campo.”


É frequente ouvir esta afirmação. A calma, o ar puro, o sol, a brisa matinal, os passarinhos a chilrear nas árvores, talvez tudo isso leve as pessoas a pensar que o campo encerra um ideal da qualidade de vida.



Por “pessoas” leia-se malta da cidade, claro. Quando suspira por vastos campos de girassóis, a malta da cidade está nitidamente esquecer-se do aspecto de uma pessoa que passou toda a sua existência no campo. É o tipo de ambiente que faz uma mulher de 30 anos aparentar 65. O ar seco, o pó da terra e o parco uso de cosméticos conferem a qualquer sujeito uma intensa rugosidade, apenas possível num cavaleiro vivo desde o tempo das cruzadas.



Vejamos o senhor Almerindo Jesus, por exemplo. Tem 42 anos e é proprietário de um minifúndio.


42 anos!

Não tenham ilusões, a vida no campo é mesmo dura.



Na foto, Almerindo Jesus apresenta-se com uma coroa de arame farpado na cabeça. É uma pequena brincadeira que gosta de fazer pela Páscoa, por causa do nome, entendem? Jesus? Coroa de espinhos? Páscoa?

É um pândego.



Ok, é chanfrado mesmo. Ele foi dos Rangers quando era mais novo, por isso…


Quer dizer, não chegou a ser. Esteve quase, mas não o aceitaram porque não tinha bracinhos. Parecendo que não, ainda é importante para quem quer disparar armas e subir cordas.

Mas a paranóia continua intacta.



P.S.: Obrigado ao Perdido, um rapaz da cidade que numa tarde ensolarada encontrou esta cara quando provavelmente corria de cuecas num campo cheio de dentes de leão.