6.12.06

Vamos aos destaques, Professor.

Não consegui resistir à tentação avassaladora de trazer aqui ao estaminé uma verdadeira pérola da literatura popular. Uma pérola digna da ostra mais ranhosa, a viver bem no fundo de um qualquer afluente manhoso de um rio extremamente poluído com fábricas de têxteis junto às margens.

Nem todas as ostras se podem dar ao luxo de viver no centro do mar. Ao preço que isto está, muitas têm de se sujeitar à periferia. E parece que estou a ver esta ostra no seu T0, uma cave virada para um beco, com grades nas janelas e flores de plástico, enquanto se ri e defeca disparatadamente ao ler esta pérola que vos trago aqui hoje.





SIM, "O Livro da Galhofa" existe!

Não é um mito, alguma coisa tinha de servir de base a séries do género d'"Os malucos do riso". Não acredito que aquela piada toda fosse fruto da inspiração dos actores. Este livro é a sua Bíblia.

E promete, senão leia-se os quilos de informação que vêm na capa.

Quando pus os olhos nisto ia ficando em transe. Não sei o que é que é melhor aqui.

É ter logo uma anedota na capa? É a linha que define o público-alvo desta publicação, ainda que deixem subentendido de forma bem humorada que é para toda a gente? É aquela ilustração perfeitamente inenarrável? São as cores? Ou será o simples facto de ter GALHOFA no nome?

Seja o que for, parece estar a vender bem, uma vez que já vai na 5ª edição.

Vamos ver o que contém o livro que tem esta capa. Antes de mais o prefácio. Qualquer livro de respeito abre com um prefácio, que não é mais que alguém de renome a fazer festinhas ao ego do autor do livro.

Acontece que um livro que tem uma capa destas, tem também um sério problema de marketing, tecnicamente apelidado de "bizzaria-impossível-de-vender" (ou em inglês, "crap book"), logo dificilmente seria prefaciado. Apesar disso, o autor não se deixou abater e tratou ele mesmo de puxar os galões ao seu livro.

Que lógico, por Deus!

"Quando lemos livros de anedotas, aprendemos anedotas. Quando lemos livros de outras coisas, aprendemos sobre outras coisas."

Só uma inteligência tão singular é capaz de nos fazer ver as coisas com esta clareza. Não sei como é que vivi tantos anos na confusão. Existem dois tipos de livros, a saber:

- livros de anedotas, onde se aprendem, como o próprio nome indica, anedotas.

- livros de outras coisas, sendo que os temas podem variar entre filosofia, física quântica, história, pintura ou gastronomia tradicional.

Por que será que a Fnac insiste em complicar tanto, dividindo aquelas estantes todas com temas e mais temas?

Para quem ainda não conseguiu ultrapassar o choque de saber que também existe "O Livro da Risota", lamento informar que esta extensa colecção contém ainda temas como "O Livro da Paródia", "Vamos Rir", "Rir... Até mais não!", "O Sabidão" ou "Adivinhas Divertidas".

Para quem ainda não ultrapassou o choque de saber que a Torre de Belém é, afinal, um porco... terapia pode ser uma solução, mas umas férias também ajudam.

Preocupa-me que o senhor Nunes dos Santos possa acreditar genuinamente que alguém vá contar aquelas piadas para algum lado. Só um fundamentalista poderia acreditar assim tanto no potencial destas anedotas. A menos que as suas intenções não sejam honestas. Preocupa-me, acima de tudo, que ele se dirija ao público infantil. Aquelas cabecinhas frágeis são sempre um alvo fácil.

As piadas são assim:

AAHHH, eu vi isso! Estavam a rir, não mintam!





Pormenor: As piadas têm título e estão alfabeticamente arrumadas (embora não muito bem. Acho que a certa altura o tipo perdeu a paciência. Ou então apercebeu-se do que estava a fazer... também é uma hipótese.)

Uma piada que tem título anuncia claramente a quem a vai ler "Atenção! Isto é uma anedota. É pouco provável que te venhas a rir no final."

Algumas nem sequer têm título, apenas uma moral da história - antes da história.

Outras nem anedotas são. Talvez se encaixem na categoria de "lição para a vida, petizes". Certo é que nem resultam quando escritas. São piadas visuais, que de outra forma não se compreendem. Mas isso não impediu o senhor Nunes dos Santos de incluí-las no seu livro.

Delicioso!

OK! PÁRA TUDO!

Momento alto do livro, este em que nos deparamos com o melhor nome de sempre para anedotas, lendas ou histórias populares: ZÉQUITOLAS.

Vai ser difícil bater este portento.


GNHRGH...

Admito, que esta até me fez esboçar um sorriso. Mesmo quando eu não estava à espera.

Mas não me orgulho, não foi por vontade própria. Escapou-se.

Não é, definitivamente, pela forma como está contada, mas a ideia tem alguma piada. É de uma simplicidade capaz de fazer "cócegas no cérebro". Acho que consigo vê-la num número de Raúl Solnado.

Ainda assim, o sentimento de culpa está a dar cabo de mim.


Acho que já chega de bater no ceguinho.

Este livro é um pequeno mundo. Havia muito mais para dizer, mas acho que o essencial já está. Falta só um pormenor, que talvez ajude a explicar muito da natureza desta obra. A editora é do Porto.

Depois desta, resta-me só deixar-vos com o verso, também ele recheado de graçolas e com um argumento de vendas fenomenal mesmo no final.

Não fosse tê-lo já ao lado d'"As lições do Tonecas" no meu armário sagrado, eu queria que mo oferecessem no Natal.

1 Comentários:

Blogger Prezado disse...

isto mete medo.

11:26 da manhã  

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