13.12.06

Mais destaques

Séria miséria


Ele diz adeus ao seu velho piano de cauda, de teclas cada vez mais negras e gastas.
Ela teve nova oportunidade. Agora, foge ao trânsito para levar um cliente ao aeroporto.
Eles olham lá para baixo, para o quintal. A próxima descarga de ódio vai ter de esperar.
Elas acabam de encaixotar o último crucifixo. A fé está pela hora da morte.

Ele, já pouco tinha com que alimentar as suas longas noites de vício no casino.
Ela voaria para longe, se pudesse. Mas uma pulseira electrónica fá-la pensar melhor.
Eles vivem a frustração de serem os únicos pombos com prisão de ventre lá do bairro.
Elas mudam-se agora para um convento mais pequeno e com uma renda mais em conta.

“Ele”, “ela”, “eles” e “elas”, conheci-os andava eu na 4ª classe, num livro de gramática. Sempre imaginei quem seriam.




O desafio foi feito pela Inversus, uma revista lançada há relativamente pouco tempo. Vale bem a pena conhecê-la um pouco melhor.

Davam-me quatro imagens que pouco ou nada tinham a ver umas com as outras e pediam-me um texto que as metesse a todas ao barulho. Esta foi a minha abordagem.

Deu-me um certo gozo trazer este texto ao mundo. Para mim, aquelas quatro imagens eram quatro histórias diferentes, portanto saiu tudo muito rápido. Foi uma quebra no tipo de coisas que escrevo todos os dias. Uma espécie de Kit Kat criativo. Soube bem.

A Inversus vai na edição número 8, acabadinha de sair. Quem não a encontrar por aí, tem sempre a edição on-line. Aproveitei a deixa para incluir o link na coluna do lado, agora com mais algumas novidades.



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"Obrigado por fumar" (cliquem no título para saber mais)

Nick Naylor é pago para falar. Ele é lobista profissional (tradução feita com cuspo de “lobbyist”), ganhando a vida a dar a cara pela indústria do tabaco. E ele é bom, muito bom naquilo que faz, levando-o a ser, por isso, um dos homens mais odiados pela sociedade.

Não é fácil ser-se o advogado do Diabo, mas Nick Naylor faz verdadeiros milagres usando apenas da palavra. Afinal quando se tem um dom, pode funcionar quer para o bem, quer para o mal.

A certa altura lembrei-me de uma teoria que li uma vez sobre pessoas inteligentes que defendem más ideias. Porquê? Porque gostam ganhar batalhas que à partida parecem perdidas. Gostam de ter razão.

E, no fundo, é um bocado isso que trata o filme. Mostra bem a máquina por trás de alguns lobbys, a forma como manipulam a verdade, e como a argumentação se pode tornar uma arma destrutiva.

A história acontece na América, mas numa altura em que a luta contra o tabagismo vai ganhando força um pouco por todo o mundo, acredito que se pudesse passar em qualquer outro país globalizado.

É um filme inteligente, bem-humorado, actual, cheio de ritmo e com um argumento a roçar o brilhante. Cada cena entra exactamente onde tem de entrar, cada fala encaixa com naturalidade no diálogo e tem um tom e um timing perfeitos de comédia. Apesar de não contar com muitos nomes sonantes no cartaz, tem interpretações bastante bem conseguidas.

O estreante Jason Reitman conseguiu uma obra surpreendentemente consistente, que mistura talento e um valente sentido crítico.

Confesso que entrei no cinema sem estar à espera de grande coisa. Vi o título algures e na altura não o achei lá muito sugestivo, mas depois li uma sinopse e fiquei curioso. As desconfianças foram todas ao ar logo ao início. É um filme que agarra desde o primeiro minuto (com uma belíssima entrada até a fazer lembrar – embora só um bocaducho – “Snatch” ou ”Ocean’s Eleven”).

Vi-o na sala mais ranhosa que o Alvaláxia podia apresentar: ficava lá para as caves, era pouco maior que o meu quarto, e com meia dúzia de cadeiras que tinham sobrado das salas grandes. Mas até agradeço. É da forma que vejo um filme confortavelmente instalado, sem os roedores compulsivos de pipocas.

Infelizmente, este filme é capaz de passar ao lado de muito boa gente. É outro filho de uma Ursa menor.

3 Comentários:

Blogger Margarida Guerreiro ou Bia disse...

Bom filme, a seguir ao Miss Little Sunshine e The Departed este entra também nos 3 filmes do ano. Por ordem: Miss Little Sunshine, Thank You for Smoking e The Departed.
O primeiro e o terceiro é bem capaz de passar ao lado de muita gente e também de muitos prémios. O Departed já é diferente, um excelente filme para o qual conseguiram grandes nomes para dar a cara por ele, que conseguiram brilhantes interpretações e que por isso devem ser 'convocados' a prémios.

Quem puder veja os três.

Bia*

12:51 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Hello! Congratulations for your blog! You've done a great job! I'll recommend to my friends!


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12:31 da tarde  
Blogger pegueitrinquei disse...

eh pah... não gostei muito, devo admitir... Fraquito, a meu ver...

6:49 da tarde  

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