Sob pressão
Apresentador – Boa noite, sejam bem-vindos, hoje vamos ter um grande programa. Temos aqui connosco o protagonista de um caso bastante mediático que aqui há uns tempos encheu primeiras páginas de jornais. Vamos conhecê-lo um pouco melhor. Olá Manuel, obrigado por ter vindo.
Entrevistado – Olá, antes de mais, boa noite, eu é que agradeço o vosso convite para estar aqui.
A – Posso tratá-lo por Manuel?
E – Claro.
A – Manuel, a história que a comunicação social veiculou era a de alguém que tinha chegado aos píncaros do desespero, levando-o a praticar actos de loucura. O que aconteceu exactamente?
E – Olhe, nem eu sei bem. A minha vida estava um grande bafafá e só sei que quando dei por mim estava barricado numa casa de banho aos gritos que me matava que me matava ai Jesus que me matava. Lembro-me que mal tranquei a porta já estava a carrinha da TVI lá em baixo para a reportagem. Acho que foi aí que me deu o clic. Ao ver aquela gente lá fora apercebi-me de que ficar ali não me ia levar a lado nenhum.
A – Reparei que utilizou o termo “bafafá” ainda agora. Foi algo que lhe ficou desse episódio traumático?
E – Não, eu tenho um dicionário de sinónimos que a minha filha me ofereceu. Achei que ficava bem em televisão.
A – Muito bem. Diga-nos, Manuel, por que é que chegou a esse ponto?
E – (Pausa para comoção. Voz ligeiramente embargada) Estava sob muita pressão. Andava a trabalhar muito, todos os dias era pressão pressão pressão e mais pressão. Os meus colegas diziam-me para ir com calma, que eu não podia pôr-me a apitar daquela maneira porque ainda me fazia mal.
A – O Manuel apitava?
E – Sim, tal era o stress. E outras vezes punha-me a andar à roda sozinho.
A – Estamos agora a ver fotografias suas da altura. Estava, realmente, com um ar bastante perturbado.
E – Pois.
A – Continue, continue.
E – Era um calor, um calor, assim muito abafado. Parecia eu que estava numa estufa. A suar, sempre a pingar pelas costas. E depois o cheiro a brócolos…
A – A brócolos?
E – A brócolos, nem lhe conto. Ui! Cenoura, hortaliça, brócolos, aquilo parecia um cozido.
A – Podia ser da canalização?
E – Não, era cozido mesmo, vim mais tarde a saber.
A – O nosso tempo está a acabar, conte-nos, muito rapidamente, como conseguiu ultrapassar essa fase negra da sua vida.
E – Tive de admitir que tinha um problema com o stress. Juntei-me a um grupo de apoio a workaholics e larguei o meu emprego naquele restaurante em Alcântara.
A – Já existem grupos desses no nosso país?
E – Já, e são muito bons até. A Dra. Filipa Vacondeus e o seu trem de cozinha Ideiacasa fazem um belíssimo trabalho.
A – Ideiacasa não é aquele que tinha um jingle muito giro que era "Pegue no auscultador..."
E – "...ideiacasa, AO SEU DISPOR!" É esse mesmo.
A – Manuel, está completamente restabelecido?
E – Sim. Ainda estou a finalizar o tratamento, mas felizmente hoje já posso dizer que estou como novo.
A – Muito bem, Manuel. O seu registo é, de facto, impressionante, e um exemplo de coragem a seguir por quem esteja a passar por situações como a sua. Muito obrigado por ter vindo. Nós ficamos por aqui, mas voltamos para a semana com o tema “A bulimia endireitou-me a vida”, com a convidada Bimby. Boa noite!
4 Comentários:
Escusado será dizer que, após curto interrégono, este blog voltou à anormalidade.
hehe, vim a saber que era mesmo cozido LOL
paneeeeeeela maluca!
Conheço um caso muito idêntico. Em vez de Manuel, ela chamava-se Panela e também sofria de enorme pressão que a levava, inclusive, tal como o Manuel, a ter a rosca à volta e a apitar desenfreadamente.
Lembro-me, sobretudo, quando ela tinha encontros terríveis com os “guisados”, quer eles fossem de vaca, de chocos ou de galinha. Nem mesmo a polpa de tomate, os alhos e a salsa abundantes, conseguiam aliviá-la daquele malfadado stress.
É por isso que digo, há vidas muito difíceis, oh se há!
hehehe. É dura a vida, o Manuel tem cara de estar à beira da esquizofrenia...
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