Este ano foi assim
Podem não acreditar, mas após o post da semana passada, hordas de e-mails inflamados inundaram a minha caixa de correio electrónico.
Metade deles eram spam, com títulos sugestivos como “enlarge your penis now!”, e depois havia uns quantos com críticas por ter infamemente desmascarado a Torre de Belém.
Aparentemente há muita gente com uma ligação quase religiosa ao dito monumento. E já se sabe que quando se mexe com as crenças das pessoas…
A ousadia podia ter-me saído cara, mas nada pode parar a minha mensagem. Eu fui um dos “Escolhidos”, tenho um papel a cumprir.
Mas como nem só de caras vive este blog, hoje decidi não agravar o vosso trauma e falar-vos de outra coisa. Isto convém ir devagarinho porque há pessoas que não estão preparadas para tanta verdade de uma só vez.
Terminou no passado fim-de-semana a 17ª edição do FIBDA – Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. Digam lá que não é uma belíssima sigla?
FIBDA!
Na categoria nomes-nada-fáceis-de-pronunciar-com-cinco-letras-e-particularmente-pouco-atraentes-para-eventos-da-nona-arte, este é, com segurança, dos melhores que já vi.
E o que houve de novo no FIBDA deste ano?
Pouca coisa. O mesmo sumo de máquina, as mesmas editoras a marcar presença, os mesmos critérios duvidosos por parte de um júri duvidoso, os mesmos temas imbecis a concurso e os mesmos cromos intelectualóides que só saem de casa naquela data. Por isso, posso dizer que gostei.
Em equipa que ganha não se mexe. E apesar de tudo, esta fórmula estafada parece continuar a resultar.
A grande novidade acabou mesmo por ser o local. Da estação de Metro da Falagueira, passou agora para o coração da Brandoa. Isto traduz bem a vontade explícita por parte dos responsáveis da organização de quererem livrar-se deste fardo nas suas vidas, enterrando a cada ano o Festival numa Amadora mais negra. Há-de chegar o dia em que conseguirão transferir o evento para a própria Faixa de Gaza, e aí poderão argumentar que não existem condições de segurança para que este se realize.
Estamos a falar do Concelho com o maior índice de criminalidade do país, e da mudança de uma freguesia problemática para outra ASSUSTADORAMENTE problemática. No entanto, há que referir um aspecto positivo: os marginais amantes de BD ficaram a ganhar, visto que o novo local fica uns 500 metros mais à frente do anterior. Já não é preciso roubar um carro só para lá ir.
Na noite da inauguração, cá fora, a confusão era grande: havia fogo de artifício e gangs à solta (provavelmente à coca - esta é a palavra certa - de um autógrafo dos seus autores favoritos).
Não estou bem certo de ter assistido à cerimónia de abertura ou a uma rusga policial, mas foi muito semelhante àquelas notícias de telejornal, onde adolescentes atiram pedras a tanques de guerra enquanto estes passeiam tranquilamente pela cidade.
A certa altura vejo um polícia a avançar para mim. “Estou feito!” – pensei eu – “confundiu-me com um bandido e agora vai exercer a sua autoridade embatendo uma sólida marreta na minha cabeça”. Mas não, fui eu que, ao estacionar, pisei um traço contínuo. Eu percebo o senhor Guarda, é assim que se começa uma vida no crime.
Na verdade não houve problema rigorosamente algum, mas só a ideia de estarmos a andar a pé por um sítio que as estatísticas tornam sombriamente famoso já é suficiente para nos pormos em sentido e a imaginar coisas.
As instalações, no entanto, são bem melhores que a estação de Metro.
Miguel Rocha ganhou o prémio para o melhor álbum. Justíssimo! O seu mais recente trabalho parece-me simplesmente brilhante. “Salazar, agora na hora da sua morte” é visualmente sublime, qualquer coisa entre a tinta da china e a fotografia antiga. Não sei ao certo que técnicas utilizou, ainda não tive oportunidade de vê-lo com mais cuidado; mas de certeza que não me vou arrepender de ter essa maravilha na minha estante.
A disposição da exposição estava bem conseguida, bem menos confusa do que em anos anteriores e com alguns pormenores bastante interessantes.
Num bloco separado estavam os trabalhos a concurso. Mais uma leva de xaropadas a armar ao profundo a dissertar sobre temas com mensagem, como a política, a fragilidade da alma ou o sentido perdido da vida.
MALTA, O QUE SE PASSA CONVOSCO?! Párem com esses elitismos do copo de 3!
É BD, pelo amor de Deus! Não tentem copiar o que viram na edição do ano anterior, puxem por essas cabeças, sejam criativos, brinquem, arrisquem, excedam-se! Se não vos sair nada de especial, não há problema, façam é qualquer coisa que vos divirta. E que nos divirta também.
É um fastio tremendo ter de ler tanta filosofia gratuita aos quadradinhos. É só uma BD, ninguém se quer deprimir ou repensar a sua existência.
...Ou então esqueçam tudo o que eu acabei de dizer, se quiserem vir um dia a ganhar o primeiro prémio. É legítimo pensar assim.
Por agora, fiquem com algumas imagens do que se podia ver por lá.
Para a semana há caras.
...Só para se irem mentalizando.
A&B

















Este último foi dos mais aclamados de todo o evento. Considerado unanimente como "a coisa mais mal enjorcada" que por lá se podia encontrar.
Consta que ia levando uma menção horrorosa. Estou satisfeito com o resultado.
2 Comentários:
FIBDA nao sei, puxa-me para a asneira.. Fibda da P***a?
não da jeito, mesmo.
P.S. Tás a precisar de mais OTs
Eu penso que, apesar de tudo, a Faixa de Gaza acaba por ser um local mais seguro que a Amadora, sobretudo à noite. Não fossem as iluminações de Natal, que na Amadora já estão acesas desde o início do mês, e poder-se-ia considerar a cidade da Amadora completamente escura. Mas olha que a perigosidade que se pressente na Brandoa não é menor do que a existente na Cova da Moura ou mesmo no Babilónia. A Amadora é uma cidade ASSUSTADORAMENTE PROBLEMÁTICA e ponto.
Por isso, atrevo-me a sugerir que a sigla identificativa do próximo festival, passe de FIBDA – Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora para FIBDAB, o que, porventura, complicará mais a compreensão da coisa, mas que pretende designar o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora Black.
Tiveste sorte, digo eu. Mesmo com tantos marginais nas redondezas, tudo continua “cool”, até o polícia que te mandou parar. É que hoje pisa-se um traço contínuo e o passo seguinte, quem sabe, é puxar por uma caçadeira de canos serrados e mandar uns quantos tipos para o além, para terem uma perspectiva ainda melhor do festival, visto lá bem de cima.
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