Dar o passo
Pascoal é bom rapaz.
Namora uma moça engraçada. Ela, bem diferente dele, é dinâmica, independente, sofisticada. Pascoal é só bom rapaz.
Não é burro, um pouco tímido talvez. Amigos chamam-lhe panhonhas, quase sempre na brincadeira. Pascoal não leva a mal.
Dia de S. Valentim. Ainda não há um ano que namoram, a relação parece ainda não ter um rumo definido. Mas Pascoal, que é bom rapaz, quer assentar. O dia de S. Valentim parece-lhe a data apropriada para tomar uma atitude.
Ele prepara um jantar mucho gostoso lá em casa. A casa, não é nada de especial mas está arrumada. E limpa. Não tem grande vista mas ao menos é fácil estacionar ali.
Pascoal na cozinha. Mete o avental, dispõe os ingredientes na bancada do maior para o mais pequeno, escolhe o melhor vinho, e lança-se numa cruzada de várias horas.
Oito e meia, toca a campainha. Ela foi lá ter, é independente e sofisticada. E é fácil estacionar ali.
O jantar está óptimo, o vinho é perfeito. Ela já experimentou cozinhas mais elaboradas, já bebeu vinhos mais caros, mas o esforço de Pascoal para agradá-la não lhe passa completamente ao lado. E que esforço, ao cabo de vários meses juntos, Pascoal ainda se ri da maioria das piadas dela.
Pascoal convida-a a ir um pouco para o sofá. Está-se mais à vontade para falar.
- “Eu gostava de ir lá fora dar um passeio contigo, mas com a ladroagem que anda agora aí no bairro… compreendes?”
Ela compreende. Vão para o sofá.
Música! É preciso música! Pascoal abre a Playstation e mete Paul Anka. Aprendeu bem a lição, os discos do Kenny G e as compilações de Natal custaram-lhe as duas últimas relações.
A conversa flúi. Ele serve champanhe e chocolates. Champanhe não, é um espumantezito bastante agradável e muito mais em conta.
Precisamente quando Pascoal tentava falar de projectos para o futuro sem se atrapalhar, quando tentava introduzir profundidade na relação, uma vozinha trémula e amedrontada:
- “Piedade!”
Pascoal abriu os olhos de espanto. Aquela súplica não encaixava no discurso dela. E a que propósito é que ela, sofisticada, iria pedir piedade?
- “Misericórdia, por favor! Parem com isto! OHH como dói!”
Pascoal olha para baixo, para a mesinha de apoio em frente ao sofá.
- “Ou então comam-me de uma vez, mas acabem logo com isto.”
Pascoal tenta disfarçar a situação antes que ela note. Como quem não quer a coisa, põe umas revistas em cima para abafar o som.
- “Isto quer dizer que já posso ir para casa? Onde é que eu apanho um táxi a esta hora?”
Ela nota que ele fica demasiado nervoso de um momento para o outro e sente-se desconfortável.
- “Por que é que não me dizes logo de uma vez o que quer que tenhas para me dizer? Isto é ridículo, Pascoal.”
- “Se quiserem até posso falar com o meu primo Mon Cheri. Ele não se importa de vir no meu lugar. A sério. Mas deixei o número dele em casa, por isso…”
Pascoal passa-se:
- “SIM, VAI! VAI PARA CASA DE UMA VEZ E NÃO ME CHATEIES MAIS!”
- “Desculpa?!” – Ela engole em seco, sem acreditar no que acaba de ouvir.
- “ Não! Ahh, desculpa, não é contigo que eu estava a falar…”
- “Não?! E posso saber com quem era, então?”
Pascoal fica vermelho, sem saber o que fazer. Nem o que dizer.
- “… Era com o… ahh… quer dizer… eu estava a falar com o… hum… bombom.”
Longo silêncio.
- “Sabes? As minhas amigas é que tinham razão, tu és demasiado estranho. Adeus.”
Ela agarra na mala e no casaco e sai pela porta com estrondo. E Pascoal, que é bom rapaz, tira as suas conclusões: Paul Anka também não funciona.
- “Achas que diga ao taxista para ir pelo aeroporto para fugir ao trânsito no centro?”
Namora uma moça engraçada. Ela, bem diferente dele, é dinâmica, independente, sofisticada. Pascoal é só bom rapaz.
Não é burro, um pouco tímido talvez. Amigos chamam-lhe panhonhas, quase sempre na brincadeira. Pascoal não leva a mal.
Dia de S. Valentim. Ainda não há um ano que namoram, a relação parece ainda não ter um rumo definido. Mas Pascoal, que é bom rapaz, quer assentar. O dia de S. Valentim parece-lhe a data apropriada para tomar uma atitude.
Ele prepara um jantar mucho gostoso lá em casa. A casa, não é nada de especial mas está arrumada. E limpa. Não tem grande vista mas ao menos é fácil estacionar ali.
Pascoal na cozinha. Mete o avental, dispõe os ingredientes na bancada do maior para o mais pequeno, escolhe o melhor vinho, e lança-se numa cruzada de várias horas.
Oito e meia, toca a campainha. Ela foi lá ter, é independente e sofisticada. E é fácil estacionar ali.
O jantar está óptimo, o vinho é perfeito. Ela já experimentou cozinhas mais elaboradas, já bebeu vinhos mais caros, mas o esforço de Pascoal para agradá-la não lhe passa completamente ao lado. E que esforço, ao cabo de vários meses juntos, Pascoal ainda se ri da maioria das piadas dela.
Pascoal convida-a a ir um pouco para o sofá. Está-se mais à vontade para falar.
- “Eu gostava de ir lá fora dar um passeio contigo, mas com a ladroagem que anda agora aí no bairro… compreendes?”
Ela compreende. Vão para o sofá.
Música! É preciso música! Pascoal abre a Playstation e mete Paul Anka. Aprendeu bem a lição, os discos do Kenny G e as compilações de Natal custaram-lhe as duas últimas relações.
A conversa flúi. Ele serve champanhe e chocolates. Champanhe não, é um espumantezito bastante agradável e muito mais em conta.
Precisamente quando Pascoal tentava falar de projectos para o futuro sem se atrapalhar, quando tentava introduzir profundidade na relação, uma vozinha trémula e amedrontada:
- “Piedade!”
Pascoal abriu os olhos de espanto. Aquela súplica não encaixava no discurso dela. E a que propósito é que ela, sofisticada, iria pedir piedade?
- “Misericórdia, por favor! Parem com isto! OHH como dói!”
Pascoal olha para baixo, para a mesinha de apoio em frente ao sofá.
- “Ou então comam-me de uma vez, mas acabem logo com isto.”
Pascoal tenta disfarçar a situação antes que ela note. Como quem não quer a coisa, põe umas revistas em cima para abafar o som.
- “Isto quer dizer que já posso ir para casa? Onde é que eu apanho um táxi a esta hora?”
Ela nota que ele fica demasiado nervoso de um momento para o outro e sente-se desconfortável.
- “Por que é que não me dizes logo de uma vez o que quer que tenhas para me dizer? Isto é ridículo, Pascoal.”
- “Se quiserem até posso falar com o meu primo Mon Cheri. Ele não se importa de vir no meu lugar. A sério. Mas deixei o número dele em casa, por isso…”
Pascoal passa-se:
- “SIM, VAI! VAI PARA CASA DE UMA VEZ E NÃO ME CHATEIES MAIS!”
- “Desculpa?!” – Ela engole em seco, sem acreditar no que acaba de ouvir.
- “ Não! Ahh, desculpa, não é contigo que eu estava a falar…”
- “Não?! E posso saber com quem era, então?”
Pascoal fica vermelho, sem saber o que fazer. Nem o que dizer.
- “… Era com o… ahh… quer dizer… eu estava a falar com o… hum… bombom.”
Longo silêncio.
- “Sabes? As minhas amigas é que tinham razão, tu és demasiado estranho. Adeus.”
Ela agarra na mala e no casaco e sai pela porta com estrondo. E Pascoal, que é bom rapaz, tira as suas conclusões: Paul Anka também não funciona.
- “Achas que diga ao taxista para ir pelo aeroporto para fugir ao trânsito no centro?”
1 Comentários:
A culpa da inabilidade dele não pode ser atribuído ao Paul Anka. Se fosse com o Sting ou até com o Zé Cabra, provavelmente tinha-lhe acontecido exactamente o mesmo.
O problema do Pascoal, que até é bom rapaz, embora um pouco panhonhas - e isso vê-se à distância - é que o Dia de S. Valentim não é o indicado para fazer qualquer tipo de propostas aos namorados.
Alguém lhe devia ter dito que o Dia de S. Valentim é uma invenção comercial para atenuar as poucas vendas dos comerciantes.
Daí que, e tendo em conta que a garota é toda sofisticada e desenrascada, ele teria feito bem melhor se tivesse comprado um bom champanhe e lhe tivesse oferecido uma lingerie a puxar para o sexy. Depois ... quem é que ia pensar em jantar?
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