10.1.07

Rebajas

Ela vai na rua.

Foi às compras, os saldos são um apelo demasiado forte para a natureza feminina. De repente, ao passar uma montra, ela pára. Como quem não quer a coisa, entra e vai ver se encontra aquela camisola em preto. Preto dá com quase tudo.


AH! Explosão de alegria! Encontra a última, na cor que procurava, e no tamanho certo.

Por dentro, sente-se uma adolescente histérica aos saltinhos.


Então ela olha para a outra etiqueta. A adolescente perde o sorriso e pára de saltar. Parece que afinal aquela camisola não está em saldos, deve ser já da colecção nova.




Bolas!




Era mesmo uma camisola daquelas que ela queria. Mas não está em saldos ainda.




Mas é preta, e é a última.




Mas não está em saldos ainda.




E é o tamanho certo e tudo. As peças daquela casa costumam ter os cortes que mais a favorecem. A camisola é linda. É a última. Nunca mais vai encontrar outra igual. Quer dizer, pelo menos não até Segunda-feira, que é quando chega a nova remessa.

Segunda-feira ainda está longe. E a camisola está aqui tão perto...





- "Compro ou não compro?


Se comprar, gasto mais dinheiro mas fico com a camisola que queria. Se não comprar, tenho a certeza que durante a noite vou ter pesadelos com o raio da camisola.

Por outro lado, se comprar agora, deito por terra todo o conceito de saldos. Saí de casa para comprar mais barato.

O que é que eu faço?"


- "Compra, compra!" - responde-lhe uma vozinha irritantemente estridente mas ainda assim algo enigmática. Ela olha à sua volta para ver quem está a falar consigo.

Ninguém conhecido por perto, só a empregada da loja.


- "Agora deu-me para ouvir vozes. Preciso mesmo de umas férias."

- "Compra, não sejas parva. Aproveita, compra."

Agora ela tem a certeza de estavam a falar com ela. Olha novamente em redor e nada.

- "Talvez tenha sido a minha consciência a falar. A minha consciência sabe sempre o que é melhor para mim." - Ela quer muito acreditar nisso. Se é a sua consciência que lhe diz para comprar a camisola, a sua consciência deve ter razão. Comprar a camisola a preço normal em período de saldos sem ficar com um terrível sentimento de culpa? A sua consciência é o alibi perfeito.


- "De que é que estás à espera? Amanhã já cá não está. E não é assim tão cara. COMPRA!"

Então ela olha para baixo e descobre de onde vem a voz.





- "Mas... tu és quem?"

- "A camisola!! Não tires os olhos camisola!"

- "És um duende? És a minha consciência? Uma mala? A minha consciência é uma mala? Como foi isso acontecer?"

- "Para quê tanta pergunta? Sou tua amiga, pronto; agora agarra mas é já a camisola antes que alguém a leve, anda!"

- "Tens razão. Não posso deixar escapar uma oportunidade destas. Seja lá quem fores, obrigada, muito obrigada pela força... amiga."




Ela pega na camisola e dirige-se para a caixa. Sorri. Estende o cartão, digita o código. Pega no saco e sai feliz.








2 Comentários:

Blogger demascarenhas disse...

Quando se trata de comprar (e acredita que isto não é um atributo exclusivo das mulheres), a "consciência" assume múltiplos aspectos e formas. E podes crer que vence, sistematicamente, a vontade e a prudência. Tudo, afinal, se resume ao "eu gosto, eu quero e eu compro" e tudo o resto é secundário. Depois, o Nobel que inventou o Cartão de Crédito, veio ajudar definitivamente a tradicional indecisão entre "o eu quero e o eu não posso".

Neste caso, a consciência em forma de saco com cara e tudo, fez muito bem em ajudar a jovem a comprar aquela camisola linda. De um preto, de resto, que lhe ficava "a matar" e que lhe moldava magnificamente a silhueta. Pena que eu, através dos olhos do saco, não conseguisse admirar a jovem com a camisola vestida.

7:43 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

muito bom!!! muito bom mesmo, você é copy em alguma loja de reclames internacionais do estrangeiro??? parece que andas a fumar o mesmo tipo de drogas que eu...PARABÉNS, cheers mate, hope to see you in london some day.

3:16 da tarde  

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