18.9.07

Noite dura

05h47. O sol acorda, tímido, para mais um dia atarefado na cidade.

Gonçalo regressa a casa em sentido inverso ao dos primeiros mortais que seguem, mal encarados, para o trabalho.

“Tanta gente acordada!” – pensa. Gonçalo constata com surpresa que, ao contrário do que supunha, existe vida na Terra àquela hora. “Vida”, aqui no sentido mais lato do termo, como é óbvio. Porque da sua experiência, este mundo por onde agora se arrasta em movimentos curtos e descoordenados, chamado “Manhã”, não é aquele paraíso que pintam.

De manhã, a luz ofusca e magoa os olhos. De manhã, a brisa fresca e leve carrega um manto de monóxido de carbono. E de manhã, as buzinas dos condutores enfurecidos fazem eco no cérebro.


A manhã não tem poesia. É um mundo hostil, e é por isso que Gonçalo o evita.



Já perto de casa, decide parar um pouco para se recompor. A noite foi dura.

Todas as noites são duras numa semana académica a preceito. A vida social nocturna de um estudante é bastante exigente.

Gonçalo apoia-se num semáforo ainda intermitente enquanto ensaia discurso para a mãe. Quando pensa que já tem as palavras certas na ponta da língua, a única coisa que lhe sai é

“Foi da comida, não me caiu nada bem.” .

.
"Nunca mais volto àquele restaurante. Péssimo!"

3 Comentários:

Blogger Margarida Guerreiro ou Bia disse...

Não consigo parar de rir.
Esse estudante devia ser como um que conheci...frequentador do Caldas. lol

2:57 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Não conheço esse estudante. De qualquer maneira também não sou frequentador do Caldas, só fui lá duas ou três vezes, o suficiente para ficar a saber que a comida não é de boa qualidade.

12:07 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

LINDO!!!
eduardo

2:41 da tarde  

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